* Ecio Rodrigues
Há os que, por razões inescrutáveis,
preferem acreditar que o aquecimento do planeta não é uma verdade científica.
Pior ainda, por comodismo, medo ou simplesmente porque o aquecimento é negado
por esse ou aquele grupo político, muitos optam por difundir a existência de “dúvida
científica”.
Esses últimos se aproveitam
da conduta de jornalistas e de empresas de mídia que não compreendem o que está
acontecendo com o planeta e que, sob o pretexto de ouvir os dois lados, chamam um
especialista qualquer para refutar relatórios divulgados por organismos como o
Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPPC, da sigla em inglês),
criado pela ONU e que reúne mais de três mil cientistas distribuídos pelo
mundo.
Por mais incrível que pareça,
o tema na imprensa é tratado da seguinte forma: de um lado o IPPC afirma, com
veemência e disposição incomuns no mundo da ciência, que o planeta está
aquecendo; de outro, alguém, geralmente um especialista que às vezes é professor
de universidade federal, diz que o planeta está esfriando. Pronto, está aí a dúvida.
A confirmação de que o
aquecimento do planeta é um fato científico, que não está submetido a qualquer
tipo de dúvida, tem sido corroborada por termômetros espalhados ao redor do
mundo.
Depois que a Nasa, agência
espacial americana de irrefutável reconhecimento científico, afirmou que o mês
de junho de 2015 foi o mais quente mês de junho na história da humanidade desde
1880, quando se iniciaram as medições, a Noaa, outra agência de reconhecida credibilidade
científica, divulgou que julho foi o mês mais quente da história.
Veja bem, não foi o julho mais quente e sim o mês mais quente de todos os tempos. Os
cientistas que assinam o relatório e são responsáveis pelas medições afirmam
que julho registrou a média de 16,61 graus Celsius, e que essa temperatura é
maior que a média do século XX em 0,81 graus.
E mais, os cientistas asseveram
ainda que as atuais médias podem ter sido as maiores dos últimos 4.000 anos, e
não somente desde 1880. Ou seja, trata-se de uma elevação de temperatura que
nunca aconteceu antes.
Para aqueles que, além de se
deixar levar pela tal dúvida científica, ainda acham que tudo faz parte de uma
conspiração internacional (arquitetada pelos americanos, claro!), diga-se que a
agência japonesa responsável pelo monitoramento do clima, igualmente de indiscutível
credibilidade científica, corrobora esses resultados.
Indo além, o pessimismo com
o arrefecimento desse quadro de aquecimento global é unânime. Todos os
cientistas envolvidos nas medições preveem que 2015 será o ano mais quente de
nossas vidas e, o que é pior, que 2016 poderá estabelecer novo recorde de alta
de temperatura.
Temperaturas elevadas são
causadas pelo desmatamento das florestas e significam aceleração do degelo dos
polos – o que amplia o risco de alagações, por exemplo.
Não há espaço para
tergiversação, e os dirigentes dos 192 países associados ao sistema ONU que
estarão no mês de dezembro, em Paris, reunidos na COP 21 (conferência sobre mudanças
no clima) não poderão se esquivar de aderir a deliberações que podem ser tão
históricas quanto as medições de temperatura.
Deliberações que devem ajudar
a humanidade a alcançar um padrão de desenvolvimento que traga aumento de renda
e qualidade de vida e, não obstante, promova a conservação das florestas e da
água existente no mundo.
É aí que entram a Amazônia e
nós, os amazônidas.
Habitantes da maior floresta
tropical do mundo, temos que assumir nossa responsabilidade perante o equilíbrio
do clima no planeta. Desmatamento, nunca mais!
* Professor Associado da Universidade Federal do Acre,
engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política
Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.