segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Cachorros cobaias e passarinhos mortos à cetradas

* Ecio Rodrigues

O que faz com que um grupo de pessoas informadas e bem alimentadas, presumidamente oriundas da classe média (sinceramente, não parece coisa de gente rica, tampouco de gente pobre), tome a inusitada decisão de invadir um centro de pesquisas para salvar cachorros empregados como cobaias?
Embora possa haver algum senso tosco de heroísmo nessa empreitada, convenhamos que não se salva cachorros esperando por medalhas de honra ao mérito ou por reconhecimento público (embora a imprensa, sempre despreparada, possa sugerir o contrário).
Parece mais razoável vincular a motivação dos salvadores de canídeos à dimensão que a relação interespecífica (como os ecólogos gostam de chamar) entre o cão e o homem assumiu nos últimos 10 anos.
Decerto que também tem sua parcela de influência as dificuldades em se aplicar ao cotidiano dos indivíduos o conceito de sustentabilidade emergido da Rio 92 (a conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável realizada em 1992).
Ocorre que o mercado de animais de estimação no país é dominado, em primeiro lugar, pelos cachorros e em segundo, pelos gatos. Depois, em bem menor quantidade, aparece um bando de bichos exóticos da fauna nativa internacional. E, em último lugar, com pouquíssima ou quase nenhuma importância de mercado, os bichos da fauna nacional (especialmente a amazônica).
Sem embargo da importância, para a sustentabilidade, do manejo e criação de animais silvestres da fauna nativa – uma vez que esse manejo reduz sobremaneira o risco de extinção de espécies –, paradoxalmente, em relação à fauna nativa as barreiras infligidas pelo licenciamento ambiental são bem superiores aos obstáculos impostos à criação de bichos estrangeiros. Explicar isso é impossível.
Voltando à relação interespecífica entre o homo sapiens e os caninos, quem vê a rotina dos primeiros transformada radicalmente pelos segundos terá dúvida sobre qual das espécies é a racional.
Muitos autores já se debruçaram sobre as transformações que a presença cada vez mais intensa dos animais de estimação tem imposto à rotina das grandes e médias metrópoles por todo o mundo. Além de movimentar um mercado bilionário, designado por PET (da sigla em inglês para animais de estimação), e que vai de produtos para alimentação a hotéis de luxo, os bichos estão promovendo sensíveis mudanças culturais.
Até hospital público para cachorros, algo absurdo num país onde sequer os humanos têm acesso a serviços públicos de qualidade, já existe em algumas cidades brasileiras. De qualquer forma, é sintomático o fato de impor-se a toda a sociedade o ônus pela saúde dos cachorrinhos.
Vale dizer, a tendência – muito perigosa, diga-se – é no sentido da inferiorização do homo sapiens. Assim, não é de espantar que os salvadores de cachorros não entendam o fato de que, ao longo da história da humanidade, cachorros, ratos, coelhos e outros animais têm sido (e devem ser) sacrificados, em favor de uma causa maior, que é a própria existência humana.
Longe de significar algum tipo de brutalização que a sociedade industrial teria legado aos humanos, como afirmam alguns intelectuais, o uso de animais como cobaias ajuda a reduzir os riscos acarretados pela inovação tecnológica na medicina.
Diante da crise ecológica advinda do aquecimento do planeta, decorrente sobretudo do desmatamento na Amazônia e da queima de petróleo, parece razoável que a humanidade esteja preocupada com as tragédias que estão por vir.
Como os passarinhos mortos à cetradas pelos meninos em áreas rurais e nas favelas cariocas, os cachorros cobaias são ossos do ofício da existência humana.


* Professor da Universidade Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

domingo, 17 de novembro de 2013

Os portugueses e o mercado da rolha de cortiça

* Ecio Rodrigues

A região de Coruche, em Portugal, intitula-se “Capital Mundial da Cortiça”, por abrigar uma extensa área coberta por Montado de Sobreiro, um sistema de produção tradicional, que consorcia árvores que produzem cortiça com espécies forrageiras, usadas para pastoreio animal, e outras culturas de ciclo curto.
Na condição de uma das maiores produtoras de cortiça e com uma expressiva indústria de rolha de cortiça ali instalada, Coruche lança diariamente no mercado cinco milhões de rolhas que são exportadas, sobretudo, para fins de vedação das garrafas que embalam o vinho produzido em França, Itália, Argentina, e assim por diante.
Em Coruche existe, ainda, um centro de negociação dedicado à cortiça (o Observatório do Sobreiro e da Cortiça), e é organizada, periodicamente, a Feira Internacional da Cortiça.
Além de Coruche, outras regiões portuguesas são dependentes da produção de cortiça que há séculos é praticada sob esse modelo de sistema agrosilvopastoril denominado Montado de Sobreiro. Um sistema de produção que goza de alguma similaridade com os Sistemas Agroflorestais existentes na Amazônia brasileira, voltado para a produção de pupunha, por exemplo.
Ocorre que a cortiça – que tem em Portugal seu maior expoente internacional, uma vez que 50% da cortiça que abastece a demanda do mercado mundial é de origem portuguesa – é produzida a partir de uma espécie florestal, o sobreiro, ou Quercus suber, do gênero do carvalho.
Esse tipo de cobertura florestal representa 21% de toda a área ocupada por florestas em Portugal, encontrando-se, com maior expressão, na parte central e sul do país, nas regiões conhecidas como Ribatejo e Alentejo, sob a influência do rio Tejo.
Tal como ocorre com alguns produtos florestais, a cortiça passa por momentos difíceis de mercado, em face de sua substituição por matéria-prima sintética.
Com efeito, a cortiça tem sido substituída por isopor e plástico, entre outros materiais oriundos da poluente e exaurível indústria do petróleo. É provável que esteja na fabricação de rolha o derradeiro e mais importante uso da cortiça, sendo que Portugal também é o maior produtor mundial.
A produção de cortiça é sustentável, pois se trata de matéria-prima extraída da casca de uma árvore. Essa casca se renova de tempos em tempos, e as técnicas de manejo florestal que garantem que a extração ocorra sem pôr em risco a própria árvore foram estudadas e desenvolvidas pelos engenheiros florestais europeus, sobretudo os portugueses.
A produção de rolha de cortiça, por sua vez, ajusta-se aos ideais de sustentabilidade preconizados no mundo porque o manejo florestal da árvore de Quercus suber é largamente praticado no Montado de Sobreiro. Ou seja, a quantidade de sobreiros atualmente existente e em condições de ser manejada é suficiente para garantir a oferta sustentável de cortiça para as suas variadas aplicações em todo o mundo.
Finalmente, após o seu uso – seja como rolha ou outra aplicação qualquer, como na poderosa indústria de decoração ou na de artesanato –, a cortiça descartada transforma-se em matéria orgânica para a adubação de solos agricultáveis.
A poluente indústria do petróleo, por outro lado, logrou produzir uma rolha de plástico, com preços inferiores aos da cortiça, mas cujo processo de produção e de descarte aumenta de forma perigosa a quantidade de carbono jogada na atmosfera.
A fim de manter sua produção de cortiça, a estratégia dos portugueses tem sido alertar para o risco de alteração no clima provocado pela rolha de plástico. Será que dará certo?


* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Vídeo do Projeto Ciliar Cabeceiras do Purus

*Elaine de Fátima Dutra Pereira

Depois de dois anos de trabalho, as atividades do projeto foram concluídas e, dentre essas etapas, está o nosso vídeo que será postado aqui abaixo. Para finalizar as atividades dos bolsistas serão apresentadas, em breve, as respectivas monografias nas áreas de extensão, inventário florestal, sementes florestais, dentre outras.


Quero agradecer a todos da equipe multidisciplinar envolvida que contribuiu nas gravações e à equipe de edição e filmagem que tornaram esse trabalho possível.


*Acadêmica de Engenharia Florestal e ex-bolsista do Projeto Ciliar Cabeceiras do Purus.

Fotos - Manoel Urbano

CURSO DE SEMENTES FLORESTAIS

 

















 















 








 















PRIMEIRA VISITA À MANOEL URNBANO











APRESENTAÇÃO DO PROJETO






























APRESENTAÇÃO NA CÂMARA DE VEREADORES DE MANOEL URBANO