* Ecio Rodrigues
De maneira indireta, todos os profissionais
graduados no Acre nos últimos 20 anos possuem algum grau de responsabilidade sobre
os indicadores de sustentabilidade gerados no estado e na região. De forma
direta, os engenheiros florestais formados no Acre possuem grande responsabilidade
frente às duas principais mazelas que afetam esses indicadores de
sustentabilidade: desmatamento e queimada.
Afinal, cada floresta manejada
é um empecilho para a ampliação do desmatamento e das queimadas. E cada
treminhão que circula carregado com madeira pelas rodovias foi legalizado por
meio da atuação de um engenheiro florestal.
Com a aproximação do 15o
aniversário de criação do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal
do Acre (a ser celebrado em setembro próximo), e a graduação de 300
profissionais até o final de 2015, o momento parece ser propício para uma breve
avaliação acerca da importância desse tipo peculiar de engenheiro para a
realidade estadual.
Na verdade, a concentração de
esforços levada a efeito para o surgimento do curso, motivada por sua vez por
uma demanda oriunda da própria sociedade, por si já demonstra a relevância e o reconhecimento
da Engenharia Florestal no Estado do Acre.
Ocorre que desde a segunda
metade da década de 1980 a discussão sobre preservar, desmatar ou conservar a
floresta já envolvia um grupo consistente de técnicos e de organizações; essa
discussão passou pela política e chegou às instituições de ensino e de
pesquisa.
Enquanto, de um lado,
ambientalistas ortodoxos defendiam que a floresta deveria ser mantida intocada
e que o esforço estatal deveria ser direcionado para impedir o desmatamento por
meio da fiscalização, de outro lado, os pecuaristas brigavam para aumentar as superfícies
desmatadas para a criação de boi.
Conservar a floresta seria a
saída, dita salomônica, que atenderia à ortodoxia ambientalista pela manutenção
da floresta em pé (mediante, obviamente, a exploração sustentável de áreas
florestais) e, ao mesmo tempo, acalentaria a reivindicação progressista por
geração de riqueza e melhoria dos preocupantes índices de IDH ostentados no
estado.
Para conservar a floresta e
promover a consolidação dum setor florestal forte e com participação expressiva
na economia local, um primeiro passo tinha que ser dado. Não havia como satisfazer
a demanda técnica para manejar a floresta por intermédio, unicamente, da
importação de engenheiros florestais do Sudeste do país.
Embora de inegável importância,
a comitiva de cariocas, mineiros, paulistas, que chegou ao Acre nessa época não
dava conta da grande empreitada a ser enfrentada. A graduação de engenheiros
florestais no estado tornou-se uma exigência da sociedade, rapidamente
incorporada pela política pública.
Com um legado que abrange a concepção
das reservas extrativistas, além da execução das primeiras experiências de
manejo florestal comunitário para a produção de madeira, e de manejo florestal
de uso múltiplo para a oferta de uma cesta de produtos (incluindo resinas, sementes
florestais, animais silvestres), a realidade atual no Acre não é a mesma de
outrora.
A atuação dos engenheiros florestais
certamente contribui para a manutenção de 85% do território estadual com cobertura
florestal, sendo que 70% dessa área (aproximadamente) é protegida por lei, na
forma de unidades de conservação (como as reservas extrativistas), terras
indígenas, reservas legais e áreas de proteção permanente (como as matas
ciliares).
Ninguém há de negar, contudo, que,
como as florestas são consideradas a principal solução para a superação da
atual crise ecológica, trezentos é pouco!
* Professor associado da Universidade Federal do Acre,
engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal
e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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