* Ecio Rodrigues
Como
o Código Florestal promulgado em 2012 levou a proporções mínimas a largura
obrigatória da faixa de mata ciliar em propriedade particular na Amazônia, a
quantidade de biomassa presente nesse tipo peculiar de formação florestal foi
reduzida substancialmente.
Ao deliberar
dessa forma, os parlamentares foram de encontro às conclusões científicas, já
que a importância da mata ciliar para a manutenção dos recursos hídricos é fato
comprovado. Essa importância, lamentavelmente, é tão grande quanto a negligencia
dos legisladores.
Nesse
quadro, amplia-se a responsabilidade das instituições envolvidas com pesquisas
na Amazônia, que não podem desconsiderar a relevância de se promoverem estudos
sobre a função da mata ciliar, sobretudo diante da constatação de que um
doloroso (e provavelmente longo) processo de adaptação à nova realidade
climática irá ocupar o cotidiano dos amazônidas.
Afinal,
existe estreita vinculação entre os parâmetros climáticos (temperatura,
pluviosidade e fotoperíodo), o ciclo hidrológico dos rios e a quantidade de
florestas existentes na área de influência de cada bacia hidrográfica.
Nos
últimos dez anos, uma série de pesquisas foi iniciada com o objetivo de
analisar a interação entre água e florestas na Amazônia. Em que pese a
costumeira timidez com que os investimentos estatais são direcionados para esse
fim, produziu-se um instigante cabedal de informações.
No
final da década de 2000, o CNPq publicou dois editais que suscitaram a
apresentação de projetos com o propósito de analisar a mata ciliar dos rios
amazônicos, em especial no que se refere à oferta de recursos hídricos no
âmbito das pequenas propriedades dedicadas à agricultura familiar.
Esperava-se,
por sinal, que os resultados obtidos com esses projetos levasse o CNPq, na
condição de agência de financiamento, a publicar um novo edital com objetivos
mais ousados e mais específicos. O que ainda não aconteceu.
Alternativas
para o financiamento de projetos com foco na extensão e desenvolvimento
tecnológico também surgiram na mesma época. Outras agências de financiamento,
operadas pela iniciativa privada, como indústrias e bancos, se uniram ao
esforço de gestão dos recursos hídricos.
Cabe
destacar, ainda, ações recentes que derivam, principalmente, da tentativa de
oferecer respostas a eventos extremos. Em decorrência das alagações ocorridas
em 2010, 2012 e 2015, os governos do Amazonas e Acre, os mais atingidos,
instituíram programas de apoio à restauração florestal de mata ciliar nos rios
diretamente impactados.
Embora
essas iniciativas tenham procurado não tocar na raiz do problema – o
desmatamento causado pela expansão da atividade pecuária na área de influência
das bacias hidrográficas –, porções expressivas de mata ciliar em estágio
crítico de degradação começaram a ser restauradas.
Contribuindo
nessa discussão e na esperança de influenciar as agências de financiamento, com
prioridade para o setor privado, o Grupo de Pesquisa Interação Água e Florestas
na Amazônia, que contempla um conjunto de 15 linhas de pesquisas, foi
certificado no CNPq ainda em 2012.
Aos
interessados em encontrar respostas sobre o futuro das florestas e dos rios na
Amazônia, uma dica: o caminho está aberto.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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