terça-feira, 2 de agosto de 2016

Pesquisar a interação entre água e floresta na Amazônia é prioridade

* Ecio Rodrigues
Como o Código Florestal promulgado em 2012 levou a proporções mínimas a largura obrigatória da faixa de mata ciliar em propriedade particular na Amazônia, a quantidade de biomassa presente nesse tipo peculiar de formação florestal foi reduzida substancialmente.
Ao deliberar dessa forma, os parlamentares foram de encontro às conclusões científicas, já que a importância da mata ciliar para a manutenção dos recursos hídricos é fato comprovado. Essa importância, lamentavelmente, é tão grande quanto a negligencia dos legisladores.
Nesse quadro, amplia-se a responsabilidade das instituições envolvidas com pesquisas na Amazônia, que não podem desconsiderar a relevância de se promoverem estudos sobre a função da mata ciliar, sobretudo diante da constatação de que um doloroso (e provavelmente longo) processo de adaptação à nova realidade climática irá ocupar o cotidiano dos amazônidas.
Afinal, existe estreita vinculação entre os parâmetros climáticos (temperatura, pluviosidade e fotoperíodo), o ciclo hidrológico dos rios e a quantidade de florestas existentes na área de influência de cada bacia hidrográfica.
Nos últimos dez anos, uma série de pesquisas foi iniciada com o objetivo de analisar a interação entre água e florestas na Amazônia. Em que pese a costumeira timidez com que os investimentos estatais são direcionados para esse fim, produziu-se um instigante cabedal de informações.
No final da década de 2000, o CNPq publicou dois editais que suscitaram a apresentação de projetos com o propósito de analisar a mata ciliar dos rios amazônicos, em especial no que se refere à oferta de recursos hídricos no âmbito das pequenas propriedades dedicadas à agricultura familiar.
Esperava-se, por sinal, que os resultados obtidos com esses projetos levasse o CNPq, na condição de agência de financiamento, a publicar um novo edital com objetivos mais ousados e mais específicos. O que ainda não aconteceu.
Alternativas para o financiamento de projetos com foco na extensão e desenvolvimento tecnológico também surgiram na mesma época. Outras agências de financiamento, operadas pela iniciativa privada, como indústrias e bancos, se uniram ao esforço de gestão dos recursos hídricos.
Cabe destacar, ainda, ações recentes que derivam, principalmente, da tentativa de oferecer respostas a eventos extremos. Em decorrência das alagações ocorridas em 2010, 2012 e 2015, os governos do Amazonas e Acre, os mais atingidos, instituíram programas de apoio à restauração florestal de mata ciliar nos rios diretamente impactados.
Embora essas iniciativas tenham procurado não tocar na raiz do problema – o desmatamento causado pela expansão da atividade pecuária na área de influência das bacias hidrográficas –, porções expressivas de mata ciliar em estágio crítico de degradação começaram a ser restauradas.
Contribuindo nessa discussão e na esperança de influenciar as agências de financiamento, com prioridade para o setor privado, o Grupo de Pesquisa Interação Água e Florestas na Amazônia, que contempla um conjunto de 15 linhas de pesquisas, foi certificado no CNPq ainda em 2012.
Aos interessados em encontrar respostas sobre o futuro das florestas e dos rios na Amazônia, uma dica: o caminho está aberto.


*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

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