segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Sustentabilidade do dia a dia: rolha de cortiça


* Ecio Rodrigues

Cunhado durante a Conferência da Organização das Nações Unidas realizada no Rio de Janeiro em 1992, o conceito de Desenvolvimento Sustentável, até hoje, não foi inteiramente assimilado pela população.
Enquanto os empresários se apressaram em rotular de verde, ecológico e sustentável tudo o que produziam, na tentativa de não perder o bonde e as oportunidades de mercado, os ambientalistas, por seu turno, se esforçaram para atribuir ao conceito de sustentabilidade características inalcançáveis.
De maneira geral, para os ambientalistas, um produto sustentável tem que ter relação direta com a produção de pequena escala (quanto menor a escala, melhor) e o emprego de tecnologias rudimentares (quanto mais artesanal, melhor). Noções incompatíveis com uma demanda crescente e uma população mundial que vai beirar os 10 bilhões em 2020. Ah, sim, eles também acreditam que o mundo tem gente demais, por isso o controle de natalidade seria imperioso.
Todavia, sustentabilidade, ou desenvolvimento sustentável, diz respeito à capacidade de atender às demandas das gerações atuais sem comprometer a demanda das gerações futuras. Algo um tanto óbvio, mas de difícil tradução no dia a dia das empresas, famílias e governos.
A cada instante, são tomadas incontáveis decisões de consumo, que, embora tenham importância reduzida quando consideradas isoladamente, em conjunto podem levar o planeta para o rumo da sustentabilidade ou, por outro lado, para o agravamento da atual crise ecológica. Decisões simplórias, que podem ampliar o risco de ocorrência de tsunamis e tempestades violentas (como a recente Sandy, que devastou Nova Iorque) ou que podem trazer o tão esperado equilíbrio ecológico.
Decisões elementares de consumo, como escolher entre um vinho que foi engarrafado com uma rolha de cortiça e um vinho selado com rolha de plástico, seja gaseificado ou não.
A cortiça, uma matéria-prima de excelente poder de vedação e isolamento acústico, pode ser empregada em diversos produtos além da tradicional rolha, pelo que é mais conhecida. Na construção civil, em peças de decoração e utensílios domésticos, e até na poderosa indústria do automóvel, a cortiça tem utilidades sem fim.
A cortiça é produzida na Península Ibérica, no Sul da Itália e da França, e no Norte da África – regiões de influência do Mar Mediterrâneo, onde ocorrem os denominados Montados de Sobreiro. Os Montados são o resultado de um sistema de cultivo realizado há séculos, no qual as árvores de sobreiro (Quercus suber), que fornecem a cortiça, são consorciadas com outras espécies florestais e alguns animais domesticados.
A cada nove anos, em média, o produtor pode extrair do caule do sobreiro sua produção de cortiça – que é comercializada praticamente da mesma maneira que sai da árvore. Ou seja, todo o processo produtivo da cortiça é realizado sem a necessidade de aditivos químicos. Ademais, o manejo florestal do sobreiro para produção de cortiça é pouco complexo e não traz qualquer tipo de consequências para conservação da espécie.
Os portugueses são os maiores produtores mundiais de rolha de cortiça, atendendo a mais de 50% da demanda internacional. Eles têm se esforçado, numa campanha internacional, para convencer quanto às vantagens ambientais do emprego de rolhas de cortiça pela indústria do vinho – em relação às rolhas de plástico, cujo impacto dispensa comentários.
Cada vez que uma pessoa, no mundo, decide comprar um vinho em que a garrafa possui uma rolha de cortiça contribui para a sustentabilidade do planeta.
Muito simples, não?


* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

domingo, 23 de dezembro de 2012

Sobre a pecuária na mata ciliar do rio Amazonas


* Ecio Rodrigues

Chama atenção o fato de que o diferencial que existe na paisagem das margens dos rios amazônicos diz respeito à intensidade com que a pecuária bovina de corte se estabeleceu numa ou noutra localidade. O que recorta a paisagem, para o observador que navega no rio, é o surgimento de trechos sem vegetação, ou melhor, sem floresta, mas com vegetação de pastagem (embora nem sempre se consiga ver os bois).
Para dar uma ordem de grandeza a essa diferença de paisagem, pode-se afirmar, com muita chance de acerto, que a pecuária ocupou a quase totalidade da mata ciliar do rio Acre, uma boa parte da mata ciliar do Purus e uma pequena área na mata ciliar do rio Amazonas (quando se observa o trecho entre as cidades de Itacoatiara e Urucurituba, por exemplo).
Encontrar as razões que justificam maior ou menor intensidade de ocupação pela pecuária na mata ciliar exige a realização de estudos mais acurados sobre a história econômica de cada um desses municípios, o que não é o caso.
Todavia, não há dúvida que duas variáveis são determinantes em relação a essa intensidade. E a primeira delas está vinculada à malha rodoviária existente na região.
Impressiona a amplitude do raio de influência de uma rodovia pavimentada. Seus efeitos transpõem os rios e igarapés e alcançam as áreas centrais da floresta. Há produtores que precisam levar a boiada por mais de oito horas de caminhada, até chegar à margem do rio e, daí em diante, embarcar os bois por mais um ou dois dias de navegação, para, aí sim, ter acesso à rodovia. Na estrada pavimentada, esse rebanho irá trafegar por mais de 10 horas, até chegar a um mercado consumidor mais promissor.
Difícil imaginar que haja alguma coerência econômica nessa prática, mas deve existir, pois o imperativo de mercado leva o produtor a achar que é mais vantajoso seguir o caminho da pecuária. A existência de uma rodovia pavimentada e que pode ser acessada pelos ribeirinhos, mesmo que esse acesso signifique um esforço exagerado e de economicidade questionável, promove a ocupação da pecuária na mata ciliar dos rios.
A segunda variável determinante para a presença da pecuária na mata ciliar é a proximidade de uma ou mais cidades de porte médio – com população superior a 200 mil habitantes e que conte com uma estrutura já consolidada de abate e comercialização de carne bovina. Ainda que essa estrutura se volte para o mercado varejista e não disponha de grandes frigoríficos e distribuidores para supermercados, o produtor consegue vender o boi a um preço que lhe parece atrativo, uma vez que os custos de produção são muito subestimados.
No caso do rio Acre, essas duas varáveis (rodovia pavimentada e mercado consumidor próximo) são plenamente atendidas, e a influência delas deverá ser ainda mais sentida nos próximos anos, diante da pavimentação da BR 364 (que chegou até Cruzeiro do Sul no final de 2011).
Raciocínio semelhante pode se aplicar à realidade do rio Purus, onde tanto a rodovia quanto o mercado existem, embora em menor proporção que no caso do rio Acre. A promoção da pecuária naquela região conta com a importante contribuição do relevo e do solo do município de Boca do Acre, que apresenta condições propícias para a instalação dessa atividade. Por isso, o município possui o maior rebanho do estado do Amazonas.
Já no âmbito circunscrito ao rio Amazonas, a situação é diferente. Ocorre que não existe malha viária que ligue o estado a outras regiões do país. Embora a cabotagem fluvial seja intensa, a ausência de rodovia parece inibir, de alguma maneira, a atividade pecuária.
A íntima relação entre rodovia e pecuária na Amazônia é conhecida; a novidade é que essa relação alcança a mata ciliar, tornando o problema ainda mais grave.


* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Castanheira em pasto entra para lista de casos insolúveis


* Ecio Rodrigues

Existe, poucos sabem disso, uma lista de problemas que, no Brasil, preferimos não resolver por simples falta de atitude, bom senso, pragmatismo, objetividade e mais um rol de coisas que faltam e que alguns preferem chamar de falta de vontade política. A castanheira que sucumbe em áreas de pastagem na Amazônia é um desses problemas.
Ainda na década de 1980, no auge da era do desmatamento para ampliação da fronteira agropecuária (mais pecuária que agro), a derrubada da castanheira, uma árvore milenar, costumava deixar a sociedade mais apreensiva que a derrubada da própria floresta.
Acontece que a castanheira, além de seus predicados ecológicos que são muitos e impressionantes, tem um valor econômico e social igualmente impressionante.
A castanha-do-brasil, que tem no Acre um dos seus maiores produtores nacionais (embora o mercado chame o produto de “castanha-do-pará”) não possui concorrente direto. Todos os anos, quem produz castanha comercializa toda a produção por um bom preço. Poucos produtos florestais, nem mesmo a borracha, possui a estabilidade e o valor de mercado da castanha.
Sob o aspecto social, nem se fala. A castanha é um produto típico da pequena produção e, melhor ainda, duma pequena produção que se encontra dispersa no interior da floresta e que tem na castanha um dos motivos para permanecer ali, reduzindo as graves estatísticas de êxodo rural.
Estudos no campo da socioeconomia, realizados junto a populações florestais do Acre, dão conta que mais de 40% da renda dessas famílias provêm da coleta e da venda da castanha.
Todavia, essa argumentação, que é válida para a castanheira que se encontra em franca produção dentro da floresta, perde todo o significado quando a árvore se encontra isolada numa área de pasto porque não pode ser, pela normatização vigente, derrubada.
De que adianta a legislação não permitir a derrubada da árvore, se essa árvore vai morrer em pé – uma vez que a espécie não resiste ao isolamento no pasto e, obviamente, à nefasta prática da queimada?
Esse é um lado do entrevero. Se a norma tinha como alvo proteger a árvore, diante do desmatamento e da queima realizados para a instalação da pecuária, esse objetivo não é atingido, pois a árvore morre de qualquer jeito. E mesmo que a castanheira consiga resistir, o que acontece vez ou outra, sua função ecológica, econômica e social não resiste.
Em termos ecológicos, a espécie deixa de fazer parte de um ecossistema no qual mantém relações com a fauna e com outras espécies vegetais, já que a árvore fica isolada no meio do pasto, onde só há capim e boi, duas espécies que, definitivamente, não fazem parte do nicho ecológico da castanheira.
Deixa de ter relevância social, pois a castanheira no pasto, em 90% dos casos, pertence a um latifundiário que não tem qualquer relação com a pequena produção, muito menos extrativista.
Perde o significado econômico por duas razões. Primeiro, porque sua produção no pasto se torna descendente, ano após ano, até não ser mais produzido ouriço algum. E segundo, mais importante, o pecuarista não quer saber disso, ele é produtor de gado e não de castanha; ao contrário, ele demoniza essa espécie que só atrapalha a sua vida.
Para completar, a espécie possui um valor inestimável como produto madeira. Estima-se que mais de 40.000 casas poderiam ser construídas com a madeira das castanheiras que definham nos pastos.
Enquanto a vontade política se perde no interminável calendário eleitoral, a castanheira continua morrendo no pasto.


* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

domingo, 9 de dezembro de 2012

Mais recursos para Unidades de Conservação da Amazônia


* Ecio Rodrigues

Embora os incrédulos advoguem que o mundo não mudou após a Rio 92 (Conferência da Organização das Nações Unidas, ONU, sobre meio ambiente e desenvolvimento ocorrida no Rio de Janeiro em 1992), os resultados obtidos mediante os acordos assinados pelos países demonstram o contrário.
Três convenções foram firmadas pelos mais de 190 países associados à ONU (ou seja, praticamente o mundo inteiro). A primeira delas, a Convenção da Agenda 21, tendo enfocado os grandes problemas que afligem as cidades, voltou-se para a universalização do saneamento, redução e reciclagem do lixo, e criação de florestas urbanas.
Hoje, o acesso ao saneamento é questão de absoluta prioridade, e em quase todas as cidades do mundo existem programas de consumo consciente e de destinação adequada do lixo. Da mesma forma, ampliaram-se consideravelmente as áreas verdes nos centros urbanos.
Em relação à Convenção sobre Mudança do Clima não foi diferente. Essa convenção originou o Protocolo de Kyoto, acordo que estipulou a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa, adotando como parâmetro os níveis de emissão medidos em 1992.
No caso dessa convenção, o objetivo era claro, por mais que fosse de difícil alcance. Os países comprometiam-se a lançar menos fumaça no céu, diminuindo sua produção industrial e agrícola – totalmente baseada no emprego de matérias-primas intensivas em carbono. Hoje, a denominada “economia de baixo carbono” difunde-se mundo afora e poderá, em breve, sobrepor-se ao aproveitamento de jazidas (como a do petróleo, por exemplo).
A terceira e última convenção assinada pelos países foi a da Diversidade Biológica – CDB, como ficou conhecida. A CDB direcionou-se para a conservação das espécies animais e vegetais, bem como para a concepção de tecnologias apropriadas ao uso econômico e sustentável da biodiversidade presente nos ecossistemas.
O braço executivo das convenções é a denominada Conferência das Partes (COP), assembleia que se reúne regularmente e que conta com a participação de delegações oficiais dos respectivos países-membros. No âmbito da CDB, a 11ª Conferência das Partes (COP 11) encerrou-se em 19 de outubro último, na cidade de Hyderabad, na Índia, tendo apresentado resultados promissores para a conservação das espécies e o uso econômico da biodiversidade no planeta.
Os países ricos (exceto, como sempre, os Estados Unidos, que também não assinaram os acordos originados na COP 10) comprometeram-se a duplicar as suas doações, considerando-se a média dos valores doados entre 2006 e 2010, para fins de implantação do Plano Estratégico de Biodiversidade.
Por dobrar as doações entenda-se o aporte de mais de 3 bilhões de euros, destinados ao cumprimento, até 2020, das metas estabelecidas no plano. Trata-se de um resultado impressionante, sobretudo diante da crise econômica que ainda atinge a Europa – o que evidencia a disposição dos países em contornar os efeitos da crise ecológica mundial.
De concreto, esses recursos serão usados para o estabelecimento de espaços territoriais para a proteção dos ecossistemas em todo o mundo. Significa dizer que mais unidades de conservação deverão ser instituídas, em especial em ecossistemas como os da Amazônia, de forma a garantir-se a proteção de áreas cobertas por florestas.
No total, 192 países participaram da COP 11. O acordo assinado por essas nações inclui obrigações como diminuir a pressão da fronteira agropecuária sobre as florestas e promover instrumentos para a conquista da sustentabilidade. Melhor ainda, os países
adotarão sistemas que possibilitem o uso econômico da biodiversidade e o pagamento por serviços ecossistêmicos.
O mundo mudou; quanto a isso, não há dúvida.


* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

domingo, 2 de dezembro de 2012

COP 18 pode ampliar Fundo Climático Verde


* Ecio Rodrigues

Festejando a menor taxa de desmatamento da história, desde que as medições foram iniciadas em 1988, o Brasil chega à COP 18 com autoridade para requerer maior empenho dos países desenvolvidos, no sentido de fazer com que o planeta caminhe rumo a uma economia de baixo carbono.
Divulgados pelo Instituto de Pesquisas Espaciais, Inpe, os dados sobre desmatamento são realmente animadores. Foram desmatados, no período entre agosto de 2011 e julho de 2012, cerca de 4,6 mil quilômetros quadrados, uma redução sensível frente aos 6,4 mil quilômetros quadrados do período anterior.
Pela primeira vez, o total anual desmatado na Amazônia brasileira foi inferior a 5 mil quilômetros quadrados, o que é significativo e serve de parâmetro para as futuras medições.
Essa redução do desmatamento está sendo considerada como uma das mais alvissareiras notícias para a mitigação da crise ecológica planetária. Ocorre que, segundo cálculos realizados pelo Inpe, essa redução significa uma queda de 76% na contribuição brasileira para o aquecimento global – algo, sem dúvida, expressivo.
O desmatamento aumentou em três estados apenas. No Tocantins, ampliou em 33%; no Amazonas, 29%; e, pasme-se, no Acre, o desmatamento foi ampliado em 10%. É possível explicar as razões para a elevação ocorrida no Tocantins e no Amazonas; mas o aumento no Acre, onde as taxas eram inferiores nos últimos anos, está intrigando os técnicos do Inpe, que não entendem o que aconteceu no estado.
Juntamente com diplomatas chineses e de outros países em desenvolvimento, os diplomatas brasileiros apertam o cerco para que os países desenvolvidos cumpram sua parte na redução das emissões de carbono, com um aviso claro: o país conseguiu reduzir o desmatamento, mas isso tem um custo, que precisa e deve ser repartido entre todas as nações do mundo.
Eles alertam que, se não houver um plano concreto e detalhado para a implementação do Fundo Climático Verde – no qual as nações ricas prometeram depositar US$ 100 bilhões anuais, a serem aplicados em investimentos para mitigação dos efeitos econômicos gerados pelas reduções de carbono –, a COP 18 será um grande fracasso.
Significa dizer que, independentemente das negociações sobre a validade vencida do Protocolo de Quioto (que, ao que tudo indica, será substituído por um novo acordo a entrar em vigor a partir de 2020), o subsídio financeiro dos países que mais poluem para ajudar os países em desenvolvimento a poluírem menos precisa ser acertado de imediato.
Não há, por parte dos países desenvolvidos, restrições políticas para a estruturação do Fundo Climático Verde. O que emperra o avanço das negociações é a situação econômica da Europa. Em resumo, parece que as discussões caminham para o reconhecimento da importância do aporte de capital, adiando-se, todavia, a realização dos depósitos para um período pós-crise.
Condição difícil de aceitar, uma vez que os agentes financeiros têm alertado que não há previsão para o encerramento ou a superação da crise econômica vivenciada na Europa.
Por outro lado, as organizações da sociedade civil e os ambientalistas em geral conclamam os países a investirem no Fundo Climático Verde, sob a condição de que esses recursos, ao invés de serem aplicados para comprar veículos para controlar o desmatamento, por exemplo, sejam usados na geração de energia limpa, sobretudo solar, eólica e de biomassa florestal.
Recursos financeiros que, uma vez investidos, possam fazer com que a economia de baixo carbono se torne realidade.


* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

domingo, 25 de novembro de 2012

COP 18 encerrará Protocolo de Quioto


* Ecio Rodrigues


Considerado um dos mais importantes acordos multilaterais realizados no âmbito das convenções das Nações Unidas, o Protocolo de Quioto, que tem como objetivo a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa (leia-se fumaça), poderá ser encerrado na próxima semana.
Durante a COP 18 – a décima oitava reunião dos países signatários da Convenção sobre as Mudanças do Clima, que acontecerá de 26 de novembro a 07 de dezembro de 2012 em Doha, capital do Catar –, será discutido o que é mais conveniente para essas nações: manter as metas estipuladas no Protocolo de Quioto ou firmar um novo compromisso que entraria em vigor a partir de 2020.
Cabe um breve relato sobre a história do Protocolo. Desde a assinatura da Convenção do Clima, durante a Rio 92, os países ricos, sobretudo as maiores economias do mundo, como Japão e Estados Unidos, relutaram em aceitar a formalização de compromissos que implicassem limitação das emissões de gases de efeito estufa. Essas nações temiam que um acordo nesse sentido restringisse sua principal referência econômica, a produção industrial.
Todavia, cedendo a uma crescente pressão mundial – tanto dos ambientalistas quanto da sociedade em geral – a Convenção do Clima amadureceu para a elaboração e assinatura do Protocolo de Quioto, um pacto detalhado e com definições de metas, assinado cinco anos depois, em Quioto, no Japão.
Por esse instrumento, uma série de medidas deveriam ser adotadas pelos signatários, a fim de que as emissões de gases, em especial do elemento químico carbono, apontado pela ciência como principal causador do efeito estufa, fossem mantidas no nível da quantidade emitida no ano da assinatura da Convenção do Clima, 1992.
Como o Protocolo de Quioto enfrentou uma resistência enorme, principalmente (de novo) por parte dos Estados Unidos, aquiesceu-se que as determinações ali assentadas teriam eficácia apenas quando o acordo fosse subscrito pelos países cujas emissões somadas representassem mais da metade do total das emissões mundiais.
Foram necessários sete anos para que o Protocolo de Quioto entrasse em vigor. Em fevereiro de 2012, quando a Rússia finalmente resolveu assinar, e mesmo sem a participação americana (os Estados Unidos, até hoje, passando por Clinton, Bush e Obama, não assinaram o Protocolo), as metas de redução das emissões começaram efetivamente a valer.
Sob as regras do Protocolo de Quioto, ganhos significativos foram obtidos. Esses ganhos dizem respeito, por exemplo, a um investimento cada vez maior em geração alternativa de energia elétrica; à organização de mercados de carbono em bolsas de valores mundo afora; à instituição de sistemas de redução de emissões de carbono, como é o caso do “Mecanismo de Desenvolvimento Limpo”. Mas, a despeito desses resultados, o fato é que o Protocolo ainda encontra resistências políticas – as quais, pode se dizer, são insuperáveis para nações como os Estados Unidos.
A comunidade européia e os países incluídos no grupo dos emergentes (como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) não querem ver o Protocolo de Quioto dando lugar a um novo acordo, mesmo que as novas regras venham a ser até mais rigorosas. Consideram esse caminho perigoso, por colocar em risco os avanços obtidos.
Por outro lado, países que relutam em assinar o Protocolo de Quioto poderiam ter mais disposição para aderir a um novo pacto – o que tornaria esse novo acordo mais forte que o de Quioto, sob o ponto de vista político.
Independentemente do acordo que sairá em Doha, a expectativa é que os países avancem em direção a uma economia de baixo carbono. É esperar para ver!


* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

domingo, 18 de novembro de 2012

Democracia americana e a hora no Acre


* Ecio Rodrigues

É difícil para a sociedade brasileira entender a democracia americana. Sempre que acontecem eleições nos Estados Unidos, como a imprensa nacional não consegue explicar os mecanismos adotados naquele país, fica a sensação de que o processo não seria plenamente democrático, em face da existência de um colégio eleitoral.
Nesse último pleito, que levou Barack Obama ao segundo mandato, os comentaristas chegaram mesmo a insinuar (com um gostinho de superioridade democrática tupiniquim) que os resultados da eleição poderiam levar ao questionamento do sistema eleitoral; é que, como a votação seria apertada, haveria o risco de o candidato mais votado pelo povo perder no colégio eleitoral – da mesma forma que ocorreu em 2000, quando Al Gore perdeu a presidência para George W. Bush.
Ora, em primeiro lugar, estamos falando de um sistema eleitoral instituído no século XVIII pelos chamados “Patriarcas Americanos”, os fundadores da maior e mais conceituada democracia do planeta. São regras que existem há mais de 200 anos e que resistiram a uma guerra civil sangrenta. Não existe possibilidade de serem revistas. Para os americanos, mais importante que as regras é a permanência delas – o que consolida as tradições e, em última instância, o sistema democrático. Por isso eles têm, desde sempre, uma única constituição.
Em segundo lugar, não é porque existe um colégio eleitoral que a democracia não se realiza de forma cabal. O presidente é, sim, eleito pelo voto popular – sem falar em todo o processo anterior às eleições propriamente ditas (as chamadas “primárias”). Contudo, a fim de se resguardar o federalismo conquistado a tão duras penas, elaborou- -se um mecanismo que também valoriza os estados. Assim, o partido que vence as eleições num determinado estado indica os representantes desse estado no colégio eleitoral, em número proporcional ao peso daquele eleitorado no conjunto nacional.
A um estado como Montana, por exemplo, cujo eleitorado corresponde a menos de um por cento do eleitorado nacional, cabe indicar três eleitores (o mínimo) para o colégio eleitoral; o partido que vence as eleições em Montana, mesmo que seja por um voto de diferença, tem direito a indicar todos os três delegados.
Em face do peso que é conferido aos pequenos estados para reduzir o impacto decorrente da diferença demográfica frente aos grandes estados, pode acontecer de um candidato obter (em números absolutos) mais votos populares e, a despeito disso, não ser eleger no colégio eleitoral. Sem embargo, trata-se de evento raríssimo, que só aconteceu quatro vezes em toda a história americana, e em eleições apertadíssimas. Nesses casos, os estados definiram quem seria o presidente.
O absoluto respeito à vontade popular é o princípio em que se assenta a democracia americana. Cada estado federativo inclui na cédula eleitoral um conjunto de questões a serem deliberadas pela população, que vão de algo singelo, como a construção de uma ponte, a matérias complexas (e controversas), como a liberação da maconha e o casamento de pessoas do mesmo sexo. No frigir dos ovos, a escolha do presidente é só mais um assunto (importante, obviamente) a ser decidido pelo povo.
Essa inserção, no processo eleitoral, de consultas populares, sob a dimensão alcançada pelos americanos, é algo único no mundo. Como também o é a determinação de se mover todas as forças para que essas decisões sejam cumpridas.
E é aqui que chegamos ao horário do Acre. Difícil imaginar (no âmbito de nações democráticas, obviamente) algo tão agressivo à democracia, quanto o fato de a população de um estado aprovar nas urnas um referendo decidindo o seu fuso horário, e a decisão do povo ser desrespeitada de forma tão acintosa.
Como se fosse um conluio, o governo, a imprensa, a Ordem dos Advogados, o Ministério Público, as organizações da sociedade – todos, em suma, desdenham da democracia.


* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

domingo, 11 de novembro de 2012

Expedição analisa importância de Estação Ecológica para o rio Acre



* Ecio Rodrigues

Um grupo de 14 pesquisadores oriundos da Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre irá subir o rio Acre, até próximo à nascente, na fronteira com o Peru. A expedição, organizada por meio de uma inédita parceria com o ICMBio, integra as atividades de um trabalho que, sob o apoio do CNPq, estuda a interação entre água e floresta na Amazônia.
O principal desígnio da expedição, que terá uma segunda fase na época da cheia (em meados de abril de 2013), é a coleta de informações para subsidiar o manejo da Estação Ecológica do Rio Acre; por sua vez, o manejo poderá ser direcionado para a melhoria da quantidade e da qualidade da água que corre no rio Acre.
Trata-se, a estação ecológica, de uma categoria de unidade de conservação, inserida no grupo de proteção integral, de acordo com a definição da lei que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc); nas unidades de proteção integral, além da realização de pesquisas, só são permitidas algumas atividades com fins recreativos.
O que motiva a equipe de pesquisadores é justamente a possibilidade de introduzir, nas atividades da Estação Ecológica do Rio Acre, o serviço ambiental que a floresta pode prestar, de produção e purificação da água. Para se chegar a uma primeira avaliação sobre a importância da porção florestal ali presente para a manutenção doequilíbrio hidrológico do rio, um rol de 08 projetos de pesquisa foi engendrado.

Todos os estudos serão realizados na área de influência da mata ciliar, representada por uma faixa de 2 km de largura, paralela ao traçado do rio, em cada margem, no perímetro da área da Estação Ecológica. Nessa formação florestal serão medidas, por exemplo, unidades amostrais de Inventário Florestal, a fim de se chegar às 20 espécies de maior Índice de Valor de Importância (ou IVI-Mata Ciliar); essas espécies poderão ser empregadas em futuros projetos de restauração florestal.
A contribuição da biomassa presente na mata ciliar (originária das árvores, das palmeiras e da serapilheira) será analisada por estudos específicos, que possibilitarão calcular-se a quantidade de carbono retida nessa biomassa; da mesma forma, também será objeto de estudo o solo da beira do rio, que fornece sustentação para a mata ciliar.
Uma vez que no tratamento da água que chega à população urbana, a purificação representa o maior item de custo, um dos projetos de pesquisa irá se deter na análise da turbidez da água no interior da Estação Ecológica, a fim de detectar-se a influência da floresta sobre a pureza do recurso hídrico.
Por outro lado, como a quantidade de água que chega aos oito municípios localizados à jusante da Estação Ecológica é influenciada pelas características observadas na região da cabeceira do rio, também será quantificada a vazão apresentada pelo rio Acre na área abrangida por essa unidade de conservação.
O pioneirismo dessa série de estudos reside no fato de que, embora haja farta comprovação científica acerca da relação existente entre a quantidade e qualidade da floresta presente na mata ciliar e a quantidade e qualidade da água que corre no rio, essa interação entre água e floresta ainda precisa ser esmiuçada.
Mediante o detalhamento e especificação dessa interação, ou seja, mediante o cálculo de cada item de custo que envolve o serviço ambiental prestado pela floresta, de produção e purificação da água, será possível estabelecerem-se parâmetros para a precificação desse serviço.
Quando houver: (a) um preço a ser pago; (b) um pagador que se beneficia com a qualidade da água (as operadoras do sistema de abastecimento); e (c) um prestador desse serviço (que detém a área de floresta), haverá um mercado consolidado.
E chegar-se à concretização desse mercado – no qual o produtor que possui e mantém florestas recebe pela produção e purificação da água – é o que se espera de um futuro cada vez mais próximo.


* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

domingo, 4 de novembro de 2012

Sobre o cacau cultivado na várzea do rio Amazonas


* Ecio Rodrigues
O cultivo de cacau na várzea do rio Amazonas é uma prática que remonta ao início do processo de ocupação da região. Incluído no conjunto de especiarias a que os colonizadores chamavam de “drogas do sertão”, o cacau nativo da Amazônia sempre apresentou elevada demanda de mercado.
Logo nas primeiras exportações das ditas drogas do sertão, tornou-se imperativo levar o cultivo do cacau para a várzea. Diante da disposição natural da espécie em pequenos povoamentos, com reduzido número de pés, dispersos no sempre inóspito ecossistema florestal, a coleta das sementes de cacau nativo exigia grande esforço e elevado custo.
O comércio das drogas do sertão acontecia por via fluvial: os barcos vinham de Belém, entravam pela foz do rio Amazonas e subiam até os rios Madeira e Purus, regiões de ocorrência do cacau nativo; assim, o produtor ribeirinho não teve dúvida quanto à necessidade de levar o cultivo para próximo da via de escoamento da produção – a margem do rio.
Ante a ausência de tecnologias voltadas para a seleção de indivíduos e melhoramento florestal, os produtores certamente escolhiam as sementes das árvores de cacau segundo uma única variável, a produção de frutos; os pés de cacau que se encontravam dentro da floresta e que, de acordo com as observações do produtor, rendiam mais frutos durante a safra, foram levados para ser cultivados na várzea do rio Amazonas.
Dos idos do século XVII até os nossos dias, um intenso trabalho de assistência técnica, extensão florestal e pesquisa foi desenvolvido, a fim de consolidar a cacauicultura na várzea. O que de fato aconteceu.
Nos últimos quarenta anos, sementes coletadas sob novos critérios de seleção de indivíduos foram levadas para mata ciliar e reproduzidas. Esses critérios dizem respeito não apenas à quantidade de frutos que cada árvore produz por safra, mas também à resistência a doenças como “vassoura de bruxa”, e ainda ao grau de rusticidade do indivíduo, que deve ser apto a suportar as condições impostas nas áreas de várzea.
Dessa forma, caracterizando-se por uma produção de certa forma estável, o cacau vem se mantendo como espécie de permanente importância para a economia da região. A quantidade de toneladas de sementes secas produzidas sofre desníveis acentuados apenas quando ocorrem eventos extremos, como foi o caso da alagação de 2012.
Entre as espécies florestais que originaram a ocupação econômica da Amazônia, o cacau é uma das mais significativas, perdendo apenas para a Hevea; diga-se, aliás, que o extraordinário ciclo econômico da borracha possibilitou ao país a maior riqueza jamais gerada por qualquer espécie florestal. Nem mesmo os ganhos obtidos com o pau-brasil (cuja designação batizou o território nacional) se aproximam da opulência gerada pela borracha.
Contudo, embora não tenha suscitado um ciclo econômico tão pujante como o da Hevea, o cacau se diferencia, em termos de importância econômica, em face de sua estabilidade no mercado ao longo do tempo, que não se compara a nenhuma outra espécie florestal amazônica.
Seria difícil determinarem-se os espaços temporais nos quais o cacau pode ter alcançado um ciclo de maior ou menor demanda. No caso dessa espécie, repita-se, o que tem relevância não é a ocorrência de períodos de grande riqueza, como o da borracha, mas a sua permanência e constância no mercado por um período tão longo.
A renda gerada pelo cacau pode chegar a 10.000 reais por safra, um valor bastante expressivo para o produtor ribeirinho.
Uma renda que poderia ser ampliada se a produção do cacau nativo fosse alçada à condição de política pública – o que, infelizmente, é muito difícil de chegar a acontecer.


* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Sustentabilidade do dia a dia: palito de fósforos



* Ecio Rodrigues 
No cotidiano doindivíduos, inúmeras decisões de consumo são tomadas sem levar em conta certorequisitos relacionados à sustentabilidade. Ainda que, de maneira geral, as pessoas sejam sensíveis aos impactos ambientais decorrentes do modelo de desenvolvimento assumido pela humanidade, essa sensibilidade dificilmente se reflete nas pequenas decisões tomadas diuturnamente. 
O que acontece é que, diante da generalidade do conceito de Desenvolvimento Sustentável – cunhado e negociado durante a conferência da Organização das Nações Unidas que ficou conhecida como Rio 92” –, fica difícil para as pessoas interpretá-lo, ou melhor, traduzi-lo para a sua realidade diária. 
Preocupados, certamente todos estão, mas são poucos os que possuem informações suficientes para converter essa preocupação em critérios, a ponto de influenciar uma decisão comezinha, como a compra de determinado utensílio domésticoA bem da verdade, o movimento ambientalista deveria se voltar mais para incorporar a sustentabilidade no dia a dia das pessoas. 
A sustentabilidade está relacionada à matéria-prima e ao processo produtivo aproveitados na fabricação dos bens de consumo. Dessa forma, pode se dizer que os critérios que informam a condição de sustentabilidade dizem respeito à origem da matéria-prima e ao tipo de tecnologia que é empregada na manufatura ou cultivo de um produto. 
Evidentemente, não basta se imputar a rotulagem de “verdeecológico ou sustentável” para resolver-se o problema do impacto ambiental embutido em determinado processo produtivo.   
Não é porque se confere, por exemplo, a designação de “boi verde” a um rebanho bovino (em função de alguma condição aleatória), que a respectiva criação de gado, uma atividade que se caracteriza pela conversão da floresta em pastagem, pode ser considerada sustentável. Para a realidade amazônica, aliás, é impossível arrogar-se à pecuária qualquer atributo de sustentabilidade. 
Sendo assim, sob o ponto de vista da sustentabilidade, a decisão, em tese singela, entre comprar palitos de fósforos ou isqueiros embute a análise de uma série de elementos relacionados à matéria-prima e ao processo produtivo desses artigos, de forma que a escolha recaia sobre o apetrecho mais adequado aos ideais do desenvolvimento sustentável. 
No caso, a decisão acertada para a sustentabilidade é o palito de fósforos, porque para a fabricação desse produto utiliza-se a madeira, uma matéria-prima que é renovável, ou seja, que pode ser cultivada. A Populus nigra (ou álamo”, como é comumente conhecida), espécie empregada na produção de palitos de fósforospode ser plantada aos milhares para atender toda a demanda por acendedores que há no mundo. 
Já o isqueiro pode ser considerado o típico exemplo de um produto que deveria ser (certamente será) banido do sistema econômico. Quase toda a matéria-prima empregada na fabricação do isqueiro não é renovável e, o mais grave, é intensiva no elemento químico carbono, principal causador do efeito estufa e do conseqüente aquecimento global. 
Desde a cápsula que armazena o gás, que é fabricada em plástico ou outro derivado de petróleo, passando pelo próprio gás, e chegando até a pedra que faz a faísca e a válvula que regula a chama – esses artefatos são derivados de jazidas, matérias-      -primas não renováveisque um dia irão se extinguir. Ademais, ao ser descartado, o palito de fósforo se degrada no meio ambiente, o que não acontece com o isqueiro.  
Usar palitos de fósforos como acendedor: essa singela decisão de consumo ajuda o mundo a ser mais sustentável.   
      
 * Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).