domingo, 26 de maio de 2013

Curso de Sementes Florestais

*Elaine de Fátima Dutra Pereira Essa semana foi completada uma das primeiras etapas do trabalho de Extensão do Projeto Ciliar Cabeceiras do Purus. Nos últimos dias 23 e 24 de maio, realizamos o curso de Sementes Florestais para a comunidade no município de Manoel Urbano no Centro Cultural da cidade, localizado próximo ao centro da cidade. O curso teve por finalidade levar à comunidade as informações necessárias e o conhecimento sobre sementes florestais, abordando desde o processo de seleção de árvores para coleta à legislação brasileira de sementes.
O curso teve duração de 16 horas, com certificado posteriormente emitido pela Empresa Florestal Jr. do Curso de Engenharia Florestal. Encerrei o ciclo de palestras abordando os temas de comercialização e a atual legislação brasileira de sementes. Essa primeira etapa ensinou à população um dos mecanismos que auxiliarão o trabalho de recuperação dos trechos críticos em matas ciliares no município. Assim como em Manoel Urbano, Sena Madureira será nosso próximo passo das atividades de extensão. Na próxima semana, dia 29/05 faremos a primeira apresentação oficial do Projeto Ciliar Cabeceiras do Purus ao município de Manoel Urbano, buscando sensibilizar cada vez mais a comunidade sobre a importância de preservação das cabeceiras, em especial a do Rio Purus. Para quem se interessar, a seguir está disponível para visualização a cartilha do nosso curso de sementes.
*Bolsista do Projeto Ciliar Cabeceiras do Purus e acadêmica de Engenharia Florestal (UFAC).

Amazônia entre o mercado legal e o ilegal

* Ecio Rodrigues 

Um empreendedor chega, hoje, em 2013, à Amazônia. Além de se deslumbrar com a paisagem e com o que Euclides da Cunha chamou de “obra inacabada” – que a natureza não teve tempo de terminar –, ele se empolga com as possibilidades de negócios que o rico ecossistema oferece.
O empreendedor acessa a internet, pede ajuda ao oráculo de pesquisas rápidas, e esbarra num universo de informações que evidenciam que o potencial de negócios é real e depende, especificamente, do grau de empreendedorismo da população e, genericamente, do grau de disposição dos investidores.
Ele vai, então, em busca das informações oficiais, aquelas oriundas dos órgãos governamentais federais e estaduais (em algumas localidades, também dos municipais), a respeito do desempenho econômico das atividades produtivas baseadas no tal ecossistema amazônico – que é exuberante, não se pode esquecer.
As respostas são mais que animadoras. Dos órgãos de controle, ele obtém esclarecimentos sobre as facilidades para licenciar o seu empreendimento, e dos órgãos de gestão de políticas públicas, sobre oportunidades de incentivos fiscais. Finalmente, depois de percorrer os órgãos de fomento, responsáveis pela oferta dos fatores de produção (o que os economistas chamam de terra, capital e trabalho), ele passa a ter certeza de que o seu negócio obterá todo o apoio possível.
Diante de perspectivas tão alvissareiras, o nosso herói resolve produzir carne de animais silvestres, e até se pergunta por que ninguém fez isso antes.
Aqui termina o conto de fadas e começa a realidade. Acontece que sempre que o Estado não sabe exatamente o que deve ou não fazer no âmbito de determinado setor da economia, empresários e trabalhadores pagam um preço muito caro pela indecisão pública e pela estagnação econômica que essa indecisão causa. Tal constatação se aplica a praticamente todas as atividades voltadas para a exploração do ecossistema amazônico.
Na Amazônia, a dinâmica econômica é caracterizada por uma letargia inusitada. Parece até que tudo faz parte de um processo cultural que não tem solução, mas não é nada disso. O problema sempre foi e continuará sendo, pelo menos no médio prazo, a falta de competência do Estado para definir o caminho a ser seguido na ocupação produtiva da região.
Voltando ao exemplo da produção de carne de animais silvestres, trata-se de uma atividade simples de instalar e de implemento igualmente fácil, todavia, os agentes públicos não fazem ideia de como se comportar diante da iniciativa do empreendedor.
Assim, no momento em que o empresário resolve entrar nesse negócio, ele se depara com o pior de dois mundos – com os obstáculos impostos ao estabelecimento de um mercado legal, e com as dificuldades decorrentes do cerco ao mercado ilegal. Vale dizer, como o Estado não consegue coibir o mercado ilegal, direciona a sua estrutura para criar dificuldades absurdas, a fim de que o mercado legal não se estabeleça.
O argumento costumeiro e repetido como mantra – que fere o bom senso, mas que poucos têm coragem de enfrentar – é o de que a consolidação do mercado legal, no qual a carne é produzida com tecnologia de manejo e sob controle de qualidade do produto, poderia encobrir a carne ilegal, oriunda do abate no interior da floresta. Um raciocínio distorcido, para dizer o mínimo. Basta retorquir que o abate na floresta é muito mais caro, e se tem proliferado, é justamente porque o mercado legal não existe.
No pior dos dois mundos, entre o mercado legal não consentido e o ilegal ineficazmente coibido, não há saída para o empreendedor.
Só então ele descobre a resposta para aquela pergunta que lhe intrigara, ou seja, a razão pela qual não existem, na região, iniciativas já consolidadas no seguimento da produção de carne de animais silvestres. Mas aí será tarde. 

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

domingo, 19 de maio de 2013

Projeto Ciliar Cabeceiras do Purus chega a Manoel Urbano

* Ecio Rodrigues 

Os resultados das pesquisas e levantamentos realizados no âmbito do Projeto Ciliar Cabeceiras do Purus serão apresentados nas escolas e na Câmara de Vereadores de Manoel Urbano. Com o sugestivo slogan “Conservando além das águas”, o projeto aplicou metodologia desenvolvida pela Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre para o estudo sobre a interação existente entre as matas ciliares e os rios.
Trata-se, de certa forma, de uma continuidade do “Ciliar Só-Rio” – projeto que realizou amplo diagnóstico da mata ciliar presente nos oito municípios cortados pelo rio Acre –, com um ingrediente importante, porém: é que as três cidades do Acre cortadas pelo Purus (Santa Rosa do Purus, na fronteira com o Peru; Manoel Urbano; e Sena Madureira, na fronteira com o Amazonas) estão localizadas na área de influência da cabeceira do rio.
Ora, o comprometimento das condições ambientais na área de influência das cabeceiras acarreta um efeito cascata (sem trocadilho), que, por sua vez, pode pôr em risco a qualidade e a quantidade da água que chega às cidades localizadas a jusante, até a foz do Purus, no rio Solimões. O Solimões, como se sabe, forma o rio Amazonas ao encontrar o rio Negro, nas proximidades de Manaus.
Ou seja, o desmatamento nas cabeceiras do Purus conduz a uma sucessão de consequências perigosas, que alcançam um dos mais importantes rios do planeta – o Amazonas. Por isso, a privilegiada localização geográfica das cidades cortadas pelo rio Purus representa um adicional de responsabilidade para as administrações locais.
É certo, contudo, que cuidar dessa extensa área de influência da cabeceira do rio não é tarefa fácil. Além de demandar a produção de um cabedal de informações passíveis de compreensão pelos técnicos municipais, a empreitada depreca, ainda, um volume de investimentos financeiros geralmente indisponível para essas municipalidades.
Contribuir para solucionar o primeiro componente dessa difícil equação – ou seja, para a geração de informações acessíveis pela sociedade local – foi o principal objetivo enfocado pelo Projeto Ciliar Cabeceiras do Purus.
O projeto foi apoiado com recursos do CNPq na ordem de 100 mil reais, aplicados, primeiramente, num mapeamento efetuado com imagens de satélite, que aferiu o tipo de floresta existente na mata ciliar e seu grau de antropização – de desmatamento, para ser mais específico.
O segundo passo foi a realização de um amplo inventário na mata ciliar, abrangendo os três municípios, a fim de assinalar as espécies de árvores e arbustos presentes naquelas formações florestais e, o principal, calcular as 20 espécies que podem ser consideradas mais importantes para a restauração das áreas desmatadas.
Ante os resultados do mapeamento por satélite e do inventário florestal foi possível definir os trechos de mata ciliar que precisam ser restaurados, a largura ideal que a faixa de mata ciliar deve ter em cada cidade e, finalmente, as espécies que devem ser usadas nos plantios de restauração florestal.
O projeto se encontra, atualmente, em sua fase de extensão, direcionada para conscientizar o público beneficiário a respeito de duas constatações cruciais. Primeiro, que há forte relação entre a mata ciliar e a quantidade e a qualidade da água que corre no rio. Segundo, que essa relação é ainda mais intensa na área de influência da cabeceira.
Os municípios cortados pelo Purus devem se voltar para as margens do rio. Num futuro cada vez mais próximo, serão cobrados pelo que acontece ali – vale dizer, pelo descaso com suas matas ciliares e pelas implicações que esse descaso trará a outras cidades e à bacia do Amazonas.
Por outro lado, cabe aos governos estaduais e às empresas que prestam serviços de abastecimento d’água pagar pela conservação das matas existentes na região de influência das cabeceiras do Purus. 

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

domingo, 12 de maio de 2013

Sobre capados e queixadas

* Ecio Rodrigues 

Entre os bichos domesticados e os selvagens, os que vieram sabe-se lá de onde e os nativos, os que são fáceis de manejar e os que exigem cuidados especiais, os que possuem pacote tecnológico completo para serem criados e os que ainda precisam de muita tecnologia a ser desenvolvida, não há melhor exemplo para discussão do que o porco.
No Brasil, denomina-se “capado” o porco que alimenta o mundo. Aquele do qual foram retirados os testículos para o favorecimento da engorda. Trata-se de um dos animais mais comuns no planeta, usados em larga escala para alimentar as pessoas de todas as classes sociais em praticamente todos os países.
A fim de cumprir o seu desígnio de fornecer proteína para uma quantidade imensurável de gente, esses dóceis animais passaram por processo intenso e permanente de melhoramento genético, visando ao aumento da carcaça e ao incremento da carne produzida, bem como ao aprimoramento do sabor. Tudo para facilitar a lida diária do produtor e satisfazer as exigências do consumidor.
Queixadas, por outro lado, são porcos selvagens, nativos de biomas como o das florestas amazônicas, onde são bastante frequentes. O queixada é um animal que se alimenta dos recursos encontrados no interior da floresta e vive acompanhado por algumas fêmeas e filhotes, formando grupos que migram de um lugar para outro de forma constante.
O queixada é apreciado por sua índole selvagem e pelo sabor exclusivo e exótico de sua carne. Não obstante, diferentemente do capado, não é consumido regularmente, nem mesmo na sua região de origem.
Acontece que o capado é produzido em larga escala, sob incentivo financeiro governamental, constituindo um negócio muito importante para a composição da riqueza nacional e envolvendo centenas de produtores.
Todavia, se, em relação à produção de capados, o ambiente de negócios (como costumam chamar os administradores) pode ser considerado excelente, o manejo e a criação de queixadas são objeto de preconceito exagerado, o que leva a uma série de restrições que, por sua vez, tornam essa atividade proibitiva para os pequenos e médios produtores amazônidas.
E por falar em ambiente, é bem possível que a maior restrição para que a carne de queixada complemente a dieta humana venha dos analistas da esfera ambiental dos governos. Há uma contradição perniciosa, entre as muitas que comprometem a atuação dos órgãos ambientais, que faz com que os defensores do meio ambiente têm manifesta preferência pelos capados.
Contradição, em primeiro lugar, porque os ambientalistas são os primeiros a questionar a produção de alimentos que passam por melhoramento genético e as cruéis condições impostas aos animais que são levados à mesa do consumidor. Ora, ambas as situações podem ser aplicadas aos capados.
Contradição, em segundo lugar, porque esses mesmos ambientalistas defendem a aproximação do homem com a vida selvagem e a possibilidade de a humanidade consumir alimentos menos manipulados pela tecnologia da produção em larga escala. Ora, esse é o caso dos queixadas.
Contradição, em terceiro lugar, porque a justificativa para as barreiras intransponíveis que são impostas ao manejo dos queixadas se baseia no fato de que o mercado legalizado – pasme-se! – poderia encobrir o mercado negro, abastecido com os animais ilegalmente abatidos na floresta.
Enquanto a maioria prefere os capados, domésticos e melhorados, uns poucos abnegados continuam a insistir que o manejo dos queixadas, selvagens e exóticos, merece uma chance. 

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Lista das espécies de maior IVI* em mata ciliar do Rio Purus

SANTA ROSA DO PURUS
 
 
Espécie
Família
Nome Vulgar
Inga sp.
Mimosaceae
Ingá
Hevea brasiliensis
Euphorbiaceae
Seringueira
Iriartea deltoidea
Arecaceae
Paxiubão
Astrocaryum ulei
Arecaceae
Murmuru
Alexa grandiflora
Fabaceae
Melancieira
Manilkara paraensis
Sapotaceae
Maçarandubinha
Calycophyllum sp.
Rubiaceae
Mulateiro
Dialium guianense
Moraceae
Tamarindo
Euterpe precatoria
Arecaceae
Açaí solteiro
Anona sp
Annonaceae
Ata brava
Ficus maxima
Moraceae
Gameleira
Zanthoxylum pterota
Rutaceae
Espinheiro
Ceiba pentandra
Malvaceae
Samauma branca
Cassia fastuosa
Caesalpiniaceae
Bajão
Lecythis sp.
Lecythidaceae
Castanharana
Pouteria sp.
Sapotaceae
Abiurana rosa
Eschweilera sp.
Lecythidaceae
Ripeiro vermelho
Sapium sceleratum
Euphorbiaceae
Burra leiteira
Ephedranthus amazonicus
Annonaceae
Envira Preta
Pithecellobium sp.
Mimosaceae
Ingá dura





MANOEL URBANO/SENA MADUREIRA


Espécie
Família
Nome Vulgar
Ocotea glomerata
Lauraceae
Louro abacate
Pouteria bilocularis
Sapotaceae
Abiurana
Attalea butyracea
Arecaceae
Jaci
Castilla ulei
Moraceae
Caucho
Optandra tubicina
Olacaceae
Castanha de cutia
Astrocaryum ulei
Arecaceae
Murmuru
Theobroma cacao
Malvaceae
Cacau
Bactris gasepaes
Arecaceae
Pupunha
Ocotea miriantha
Lauraceae
Toarí
Couratari macrosperma
Lecythidaceae
Tauari
Erythrina glauca
Fabaceae
Mulungu
Attalea phalerata
Arecaceae
Urucuri
Aspidosperma auriculatum
Apocynaceae
Carapanaúba amarela
Frichilia quadrifuga
Meliaceae
Breu maxixe
Parkia sp.
Mimosaceae
Angico
Bactris sp.
Arecaceae
Pupunha brava
Erythrina sp.
Fabaceae
Mulungu de capoeira
Pourouma sp.
Cecropiaceae
Toren amarelo
Euterpe sp.
Arecaceae
Açaí
Xylopia benthami
Annonaceae
Envira amarela







* IVI = Dominância + Densidade Relativa + Frequência Relativa