segunda-feira, 7 de julho de 2014

Copa do Mundo verde, só com plantio de árvores

* Ecio Rodrigues

A humanidade não vai deixar de realizar grandes eventos esportivos, religiosos, musicais, e assim por diante. Faz parte da cultura planetária a reunião de multidões para vivenciar e participar de acontecimentos grandiosos. A Copa do Mundo é apenas um desses acontecimentos – e que no âmbito esportivo se alterna, a cada dois anos, com as Olimpíadas.
Objeto de grande fascínio coletivo, esses eventos ocorriam, até bem pouco tempo, sem que se atentasse para os efeitos negativos acarretados ao meio ambiente, decorrentes da ampliação do consumo e da dinâmica econômica, em especial nos locais de sua realização.
Acontece que, durante o evento, um número de indivíduos bem maior que o normal precisará se locomover, se alimentar, se vestir, se divertir. Dessa forma, é certo que, num prazo relativamente curto, será demandada a oferta de uma quantidade bem superior de energia – o que, por sua vez, significa que uma maior quantidade de carbono será lançada na atmosfera.
Diga-se que, se antes parecia impossível medir ou quantificar o impacto ambiental causado por eventos de grande porte, hoje isso é feito por meio da avaliação do carbono expelido. Atualmente, existem metodologias já consagradas que possibilitam esse cálculo, de modo a chegar-se à quantidade de toneladas de carbono produzidas em razão da realização do evento.
Mas, além de servir como referência para medir-se a dimensão do impacto, o emprego do elemento químico carbono também convém para um outro objetivo, igualmente importante: a definição e execução das ações necessárias à mitigação desse impacto.
Com efeito, uma vez que se pode determinar, sob elevado grau de precisão, as toneladas de carbono jogadas na atmosfera, tem-se a possibilidade de planejar e implementar mecanismos que permitam a retirada desse carbono de lá. Mas é justamente aí que, como se diz, mora o perigo.
É que, na maioria das vezes – e isso inclui a Copa do Mundo que acontece no Brasil –, nada de concreto chega a ser efetivado, a fim de que o carbono expelido para a atmosfera, por conta da realização do evento, venha a ser realmente devolvido ao sistema econômico.
O que ocorre, quase sempre, é a exaltação de ações relacionadas à coleta seletiva de lixo, alguma experiência fútil de reciclagem e um senso romântico e um tanto hipócrita de apologia à natureza que não leva a lugar nenhum.
Confunde-se, com certo grau de improbidade técnica, a implantação de infraestrutura hoteleira, ampliação da capacidade dos estádios, duplicação de avenidas, construção de aeroportos e rodoviárias, entre outras ações dessa natureza, com ganhos em sustentabilidade.
Todavia, da mesma forma que os saquinhos que, aqui no Brasil, os torcedores japoneses se acostumaram a levar para os estádios para recolher o lixo por eles produzido (a despeito de ser uma demonstração de civilidade) não significam nada para a sustentabilidade, a construção de um moderno hotel também não – por mais que a obra obedeça às normas ambientais vigentes.
No caso do Brasil, merece registro ainda o fato de que as capitais dos estados amazônicos que se candidataram para sediar a Copa assumiram de pronto o slogan “Copa do Mundo Verde”. No Acre, Amazonas e Pará, os governos se animaram e investiram recursos, acreditando que bastava os jogos acontecerem na Amazônia para que a Copa conquistasse sustentabilidade. Nada mais enganoso.
Só com o surgimento de novas florestas em áreas desmatadas a Copa, no Brasil ou na Amazônia, poderia ser realmente verde. E isso, ninguém ousou sequer prometer.


* Professor da Universidade Federal do Acre, Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

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