* Ecio Rodrigues
Esqueça-se
da crise, da incompetência na gestão estatal, do ajuste fiscal que não avança, dos
órgãos públicos que nos envergonham, esqueça-se de tudo: é carnaval.
Com críticas
bem humoradas sobre o cotidiano nacional, os brasileiros aproveitam o carnaval
para transformar as mazelas da política tupiniquim em axés, marchinhas,
máscaras e fantasias. Não há discriminação, políticos de todos os partidos são
tratados com o desprezo que a sociedade acalenta pela política.
Há
exceções, todavia. Embora sem perder a irreverência, as escolas de samba costumam
abordar com mais seriedade temas que remetem a grandes questões da humanidade. É
caso do meio ambiente e da sustentabilidade do planeta.
Os
mais velhos haverão de lembrar (e os mais novos já ouviram falar) quando, em 1989,
o genial Joãozinho Trinta botou a escola de samba Beija Flor nas cabeças (para
usar uma gíria do universo do carnaval carioca), com um enredo ousado e
inovador, que sob o sugestivo título “Ratos e urubus, larguem minha fantasia”
tratava, em síntese, da produção e destinação do lixo.
Não
por acaso, a quantidade de lixo produzida durante o período de carnaval geralmente
chama a atenção dos ambientalistas, que – tal como ocorreu na Copa do Mundo –
se esforçam para sensibilizar os foliões a juntar cada um o seu lixo, a fim de acomodá-lo
nos depósitos apropriados.
A
bem da verdade, contudo, diga-se que, embora exemplar e de reconhecido efeito
pedagógico, a destinação do lixo de cada um não é a questão – o ponto nodal,
como se diz. Encontra-se na dinâmica econômica trazida pelo evento e, especialmente,
na quantidade de matéria-prima consumida (pelas escolas de samba, no caso do
carnaval carioca) o problema central, sob o ponto de vista da sustentabilidade.
Sobre
a dinâmica econômica não há o que refutar. Ao contrário, a expectativa é que
essa dinâmica seja, a cada ano, ampliada e que todos, empresas e sociedade,
sejam beneficiados pela melhoria do quadro econômico durante o carnaval.
Resta
então insistir para que o material das fantasias e dos famosos carros
alegóricos seja confeccionado com matéria-prima renovável, quer dizer,
matéria-prima que seja plantada ou colhida todos os anos, de maneira permanente
e para aquele fim.
Poucos
costumam entender, mas madeira e penas de aves são os melhores exemplos de
matéria-prima renovável. Tanto uma como outra podem ser organizadas, ou
manejadas, para usar o temo técnico, a fim de serem produzidas todos os anos,
sem prejuízo para a sustentabilidade do planeta.
Todavia,
a maioria das pessoas, por desconhecimento, prefere materiais que, a despeito
de serem ditos “reciclados”, geralmente procedem de uma forma equivocada de
reciclagem, que só aprofunda o emprego de garrafas PET e plástico. No final das
contas, essa matéria-prima é produzida pela indústria para atender à ampliação
da demanda e vai acabar parando nos lixões – justamente tudo o que se pretende
evitar.
Como
essa discussão é confusa, o melhor mesmo é partir para o plantio de árvores. Como
demonstram os países mundo afora, não há melhor maneira de tornar um evento
como o carnaval sustentável do que plantar árvores – na proporção mínima de uma
árvore por cada 100 toneladas de lixo produzido.
É uma
medida simples, que pode ser monitorada por uma organização da sociedade civil,
só depende de vontade política. E deixa todo mundo sossegado para cair na folia
sem se preocupar com o aquecimento global.
* Professor Associado da Universidade Federal do Acre,
engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal
e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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