* Ecio Rodrigues
Trazer para a realidade cotidiana das pessoas, famílias, empresas e
governos os preceitos inseridos no conceito de Desenvolvimento Sustentável
exige grande esforço de elaboração e de compreensão.
Enquanto que, por um lado, é preciso atentar para as implicações sociais,
econômicas e ecológicas (somente para ficar nessas três) do processo de
desenvolvimento, de outro lado, é necessário grande domínio do tema para reconhecer
nos produtos, bens e serviços o atributo da sustentabilidade.
Afora o exercício comum, e que não acaba nunca, da retórica da
sustentabilidade - no qual muitos estacionam, com tranqüilidade e comodismo,
achando que basta atribuir o rótulo de verde,
ecológico ou sustentável, que as diretrizes de sustentabilidade estariam satisfeitas
-, poucos itens consumidos diariamente podem, de concreto, ser denominados de
sustentáveis, ou obter um selo de sustentabilidade.
Não seria sensato achar que todo o mundo use dessa retórica da sustentabilidade
por má-fé, ou para obter algum tipo de benefício. Há casos em que as pessoas
simplesmente não conseguem se informar, de maneira precisa, sobre os elementos
que devem estar relacionados ao processo produtivo ou à origem da matéria-prima,
para tornar algum produto bom ou ruim para a sustentabilidade.
Diga-se que é difícil esmiuçar-se o rol de itens diariamente consumidos
pelas pessoas, estabelecendo, para cada um, os princípios de sustentabilidade
que deveriam estar associados à sua produção, em todos os elos do que os
planejadores gostam de chamar de cadeia produtiva.
Ao se adquirir uma singela tábua de carne, por exemplo, pode-se estar
ajudando a humanidade a se aproximar da sustentabilidade, ou a ir para longe
dela.
Uma análise ligeira desse produto, portanto, considerando-se apenas dois
elementos importantes para a sustentabilidade - o tipo e a origem da
matéria-prima -, pode ajudar no momento de se tomar uma decisão de consumo
bastante elementar.
Existe, no mercado, tábuas de carne produzidas mediante o emprego de três
tipos de matéria-prima: vidro; plástico/PVC (ou outro derivado do petróleo); e
madeira. Um primeiro ponto importante para a sustentabilidade é o fato de que
tanto o vidro quanto os derivados do petróleo são oriundos de jazidas - veios
existentes na natureza, que (embora muitos não acreditem) um dia se esgotam.
Trata-se de matérias–primas não renováveis, ou seja, que uma vez
retiradas, não podem ser restituídas ao ecossistema. Ademais, esses produtos, ao
serem descartados como lixo, não são assimilados pelo meio. Se esse lixo vai ou
não ser reutilizado (ou reciclado, como os apressados vão defender), dependerá
de uma série de políticas públicas, que, infelizmente, não existem. Mas, isso é
tema para outro artigo.
No caso dos derivados de petróleo, há ainda um agravante muito perigoso. Esses
produtos são intensivos no elemento químico carbono, considerado um dos
principais gases causadores do efeito estufa - fenômeno responsável pelas
mudanças do clima, que, por sua vez, põem em risco a sobrevivência do planeta. Vale
dizer, matéria-prima à base de petróleo deve ter seu emprego reduzido, e com
urgência.
Quanto à madeira, diferentemente do vidro e dos plásticos, é uma matéria-prima
renovável – ou seja, ela volta para o ecossistema (mediante o plantio de
árvores, por exemplo), e pode ser produzida sob a técnica do manejo florestal.
Além do mais, como toda dona de casa e todo bom apreciador de churrasco sabem,
cortar uma carne sobre uma tábua de madeira é bem mais prazeroso. A madeira possui
qualidades de uso que a torna preferida.
Comprar uma tábua de carne de madeira é ajudar a construir a
sustentabilidade no dia a dia, mas, infelizmente, poucos sabem disso.
* Professor da
Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal
e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de
Brasília (UnB).
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