* Ecio Rodrigues
Instituído pela Organização das Nações Unidas
em outubro de 2000, no âmbito do Conselho Econômico e Social, o Fórum
sobre Florestas esteve reunido do dia 8 ao dia 19 de abril último, em
Istambul, na Turquia, para discutir o destino das florestas no mundo e
sua importância para o processo de desenvolvimento econômico dos países.
Trata-se da décima reunião desse importante fórum, que avança,
prioritariamente, na discussão de duas diretrizes fundamentais. A
primeira diretriz reforça a necessidade de os países reconhecerem o
valor econômico dos diversos tipos de florestas existentes no mundo.
Seja na oferta de sua mais importante matéria-prima, a madeira, seja na
oferta dos chamados serviços ambientais, relacionados à quantidade e
qualidade da água e do ar, as florestas precisam alcançar maior valor
econômico que os usos alternativos do solo.
Entenda-se por usos
alternativos do solo o desmatamento das florestas para cultivos de
alimentos e, mais recentemente, o cultivo de oleaginosas agrícolas
(leia-se soja), destinado à produção de óleo vegetal para queima nos
motores a óleo diesel. Há consenso no fato de que, enquanto um hectare
de plantio de soja trouxer maior retorno econômico que um hectare com
150 espécies florestais diferentes, o risco de perda de florestas irá
ampliar-se de forma exponencial.
A redução do risco de perdas
acentuadas de áreas florestais é a segunda diretriz adotada pelo Fórum
sobre Florestas da ONU. Ocorre que há no mundo um contingente de “mais
de 1,6 bilhão de pessoas que dependem das florestas, incluindo
comunidades indígenas”, conforme afirmou o Subsecretário-Geral da ONU
para Assuntos Econômicos e Sociais, Wu Hongbo, concluindo que “os
serviços fornecidos pelas florestas continuam sendo subestimados,
desvalorizados e super explorados”.
Continuando, Hongbo considera
que “há provas de que tais impactos, originados pelos desmatamentos,
dificilmente ficam dentro das fronteiras nacionais”, notando que
“frequentemente, as consequências são além-fronteiras”. O que torna o
desmatamento um problema mundial.
Não sem razão o tema da décima
reunião do Fórum sobre Florestas é “Florestas para o Desenvolvimento
Econômico”. A ideia principal é convencer os países a atuar no sentido
de promover os seus mercados para ativos florestais e, ao mesmo tempo,
tornar mais eficazes os mecanismos de licenciamento e controle dos
desmatamentos.
Acredita-se que a estruturação do mercado de
carbono irá contribuir para a ampliação da competitividade do
ecossistema florestal, do mesmo modo que a cobrança pela água produzida
pelos particulares detentores de recursos florestais irá contribuir para
melhorar o desempenho comercial das formações florestais, nativas ou
plantadas.
Todavia, ainda há um abismo político e tecnológico a
ser superado para que a valoração dos ativos florestais venha a ocorrer –
o que exige maior atenção de todas as nações. Além de investir na
promoção da ciência e da tecnologia destinadas à compreensão da
interação que existe entre as formações florestais, o ar e a água, é
necessário, sobretudo, instituir sistemas de desestimulo ao uso
alternativo do solo por culturas agrícolas.
Atualmente, no mundo,
a área de terra que já foi desmatada e que se encontra degradada ou
subutilizada seria suficiente para atender à demanda agrícola e de
biocombustíveis, sem que houvesse necessidade do desmatamento de novas
áreas. Todos reconhecem as dificuldades políticas para taxar os usos
alternativos do solo, tendo em vista a influência direta dessa taxação
no preço da comida ou do combustível, mas a o incentivo ao uso das áreas
já desmatadas é plenamente viável.
A conclusão é uma só: ampliar
o valor da floresta na Amazônia é o caminho para resolver a maior
mazela econômica da região – o desmatamento.
*
Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal,
Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política
Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).
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