domingo, 5 de maio de 2013

Amazônia deve se preparar para nova matriz energética

* Ecio Rodrigues 

A Amazônia sempre teve papel proeminente na matriz nacional de energia elétrica, já que 70% da energia gerada no Brasil são provenientes de hidrelétricas. Agora, a região deve se preparar para as inovações que advirão, diante da imposição legal de universalização do atendimento.
Ocorre que, se por um lado, a construção de hidrelétricas tem importância significativa na produção de riqueza na região – seja durante a obra, seja no período de tempo indeterminado de produção de energia elétrica –, por outro lado, o aproveitamento da força das águas encontra limitações para o atendimento das populações isoladas.
A despeito das diversas definições conferidas ao termo “comunidades isoladas”, essas populações têm em comum a condição de não dispor de acesso ao Sistema Interligado Nacional, SIN; por essa razão, dependem da energia elétrica gerada nas proximidades de sua localização.
Essas populações não têm acesso ao SIN porque o transporte do produto energia elétrica até a respectiva comunidade isolada é mais caro que a instalação de alguma fonte de geração na própria localidade. Em tal contexto, portanto, a busca por opções de geração de energia adequadas ao potencial existente em cada localidade se torna uma prioridade para a política pública.
Onde ocorrer suficiente força de vento – como no caso do litoral do Amapá –, deverá ser dada primazia ao aproveitamento da energia eólica, oriunda da velocidade e permanência dos ventos, de forma independente ou conjugada com outras fontes.
Da mesma forma, nos locais onde eventualmente houver sol em quantidade e periodicidade satisfatórias, a preferência deverá ser pelo emprego da energia solar, em conjunto com outras fontes.
E, finalmente, num estado como o Acre, onde não há vento e sol com potencial de aproveitamento, mas existe biomassa florestal em quantidade passível de ser manejada para queima em caldeiras e geração de energia elétrica, essa fonte – que é adequada aos ideais de sustentabilidade como o são a solar e a eólica – deve ser objeto de prioridade pública.
É bem provável, por sinal, que a biomassa florestal seja a fonte de energia elétrica mais abundante na região. Além da fartura de biomassa florestal, a outra boa notícia é que já existe tecnologia apta a possibilitar tanto a produção florestal de matéria-prima para a queima quanto a construção das caldeiras.
Vale dizer, em termos tecnológicos, não há empecilhos que obstem o aproveitamento da biomassa florestal para a geração de energia elétrica.
Afora sua extraordinária importância para o atendimento das populações isoladas, a queima da biomassa florestal para fins energéticos surge também como importante atividade econômica, na medida em que a energia elétrica produzida pode ser vendida ao SIN.
De fato, mesmo com a construção de novas hidrelétricas, a demanda crescente por energia elétrica tornará a oferta desse produto um excelente negócio pelos próximos 20 anos, no mínimo. O que significa dizer que os produtores que puderem gerar energia elétrica, pelas características próprias de sua atividade produtiva, certamente irão entrar nesse negócio.
Por fim, a geração de energia elétrica por meio da biomassa florestal possui um diferencial frente às outras fontes, que merece atenção da política pública: o potencial para criar e consolidar um conjunto de atividades econômicas em cascata.
A produção de energia elétrica com biomassa florestal solidifica aglomerados econômicos num setor produtivo novo e sustentável. Melhor, impossível. 

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

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