* Ecio Rodrigues
Muitos costumam associar sustentabilidade à
geração de emprego e renda por meio de toda e qualquer atividade
produtiva. Outros consideram que basta a consumação de obras de
infraestrutura, como a abertura e pavimentação de rodovias, construção
de pontes, instalação de redes de energia elétrica e de comunicações,
que a sustentabilidade é automaticamente conquistada. E há também os que
acreditam que um processo forçado de industrialização, amparado na
oferta de subsídios e de outras benesses públicas, leva inevitavelmente à
sustentabilidade.
Embora se trate de inegáveis equívocos, é
nesse tipo de juízo duvidoso que os defensores da Zona Franca de Manaus
se amparam para apregoar a conveniência desse falido modelo de ocupação
produtiva para a sustentabilidade de uma região complexa como a
Amazônia. O modelo é falido porque não traz retorno (econômico, social,
ecológico) compatível com os recursos despendidos pela sociedade para a
sua manutenção. Uma série de estudos comprovam essa falência, não há
dúvida quanto a esse ponto.
Está no aproveitamento das vocações
regionais, sobretudo daquelas vinculadas ao ecossistema, a saída para a
sustentabilidade da Amazônia. É um raciocínio relativamente simples. Não
adianta instalar uma indústria para montagem de televisores em Manaus,
pois, no dia em que os subsídios públicos não forem mais concedidos,
essa indústria será transferida para o Sudeste do país – onde os custos
são menores, e a qualidade do trabalho e da infraestrutura, entre
outros, são bem superiores.
De outra banda, completando o
raciocínio singelo, não há como o Sudeste competir com indústrias que
têm no ecossistema florestal sua base de sustentação, uma vez que essa
região está muito afastada da fonte da matéria-prima – a floresta.
Diga-se que na maior parte dos casos o recurso florestal tem que ser
processado no curto prazo, ou seja, não poderia ser transportado para
São Paulo, por exemplo.
O aproveitamento dessa vocação regional
inata – ou dessa vantagem comparativa, no linguajar de economistas e
administradores – é o que se obtém quando se investe em indústrias
beneficiadoras de matérias-primas oriundas da floresta.
Evidentemente
que, para que o processo seja sustentável, essa exploração deve ser
realizada por meio do aporte da tecnologia do manejo florestal, já
consagrada e amplamente difundida na Amazônia. Assim, as escalas de
produção devem ser compatíveis com a tecnologia do manejo florestal,
isto é, devem respeitar a capacidade de regeneração do ecossistema,
ressaltando-se que não há entraves tecnológicos que obstem o manejo de
qualquer produto existente na floresta.
Mediante a instalação de
um conjunto de indústrias – que vão de madeireiras e beneficiadoras de
carne de animais silvestres aos empreendimentos baseados no promissor e
estratégico ramo da biotecnologia –, seria possível a geração de emprego
e renda tendo-se como fio condutor, ou referencia principal, o
ecossistema florestal.
O ajuntamento, como dizem os
extrativistas, desse conjunto de indústrias com as chamadas indústrias
de apoio – que inevitavelmente surgem no rastro das empresas principais
–, bem como com entidades de suporte, como as do Sistema S (Sebrae,
Senai, Sesc...), e ainda com universidades, centros de pesquisas e
outras iniciativas, formaria um aglomerado econômico que, por sua vez,
daria origem a um cluster. Um “Cluster da Biodiversidade”, no caso.
Todavia,
um cluster, vale dizer, uma conjugação de empresas e instituições
especializadas num determinado setor ou segmento da Economia – como o
que foi implantado na região do denominado Vale do Silício, na
Califórnia, e que comporta as mais poderosas indústrias de informática
do mundo – não acontece por acaso, pela força do mercado, pela tal “mão
invisível”.
Sem política pública, não haverá o Cluster da Biodiversidade, e a sustentabilidade jamais chegará à Amazônia. Ponto.
*
Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal,
Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política
Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).
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