* Ecio Rodrigues
Basta acontecer algum evento relacionado ao
clima que seja diferente de uma forte onda de calor, que os arautos da
dúvida (uns poucos que ainda restam) surgem para apregoar que o
aquecimento global é uma fantasia de quase todo o mundo - com exceção
deles mesmos, é claro. Ou ainda pior, que os países desenvolvidos
(geralmente os Estados Unidos) inventam esse tipo de disparate para
manter os países pouco desenvolvidos (geralmente o Brasil) cada vez mais
pobres.
Mesmo depois que a tese da mudança climática foi
corroborada por cientistas que atuam em praticamente todos os países do
globo, os que apregoam o contrário costumam obter um espaço na mídia,
sobretudo na brasileira, incompreensível até sob o pífio argumento de
que todos merecem espaço para dizer o que pensam. Mesmo que seja uma
grande estupidez?
Três importantes documentos publicados nos
últimos anos orientam os países a tomarem providencias para minimizar as
mudanças no clima. Trata-se o primeiro, obviamente, do Protocolo de
Quioto, um acordo internacional negociado e assinado pelos países
associados à ONU (ou seja, o mundo inteiro), que estabeleceu metas para
mitigar a quantidade de carbono jogada na atmosfera. Como se sabe, o
carbono é o elemento químico que mais contribui para as mudanças no
clima.
O segundo documento foi elaborado pelo IPCC (a sigla em
inglês para Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), um
comitê de cientistas criado pela ONU com a responsabilidade de discutir e
afirmar um posicionamento científico sobre a questão das mudanças
climáticas.
O IPCC dividiu com Al Gore o Prêmio Nobel da Paz em
2007 por sua atuação para alertar o mundo sobre três constatações
científicas cruciais: que o clima está mudando de forma rápida, que essa
mudança vai aquecer o planeta, e que a responsabilidade é do modelo de
desenvolvimento adotado pelos países; isto é, a culpa é nossa mesmo, não
é de São Pedro, ou da natureza, como sugerem os incrédulos.
O
terceiro documento, enfim, foi elaborado sob os auspícios do governo
britânico, que reuniu um grupo de renomados economistas para traduzir em
números os impactos que as mudanças no clima teriam sobre o sistema
capitalista. Os ingleses queriam saber que tipo de salvaguardas deveriam
ser instituídas, desde já – a fim de que as nações capitalistas
pudessem se preparar para resistir a esses impactos.
A resposta
foi aterradora para os que se importam com a manutenção do capitalismo.
Os números revelam uma quebradeira generalizada, sendo que, como de
costume, os países com economia mais frágil, os menos desenvolvidos,
sofrerão mais que as nações mais desenvolvidas.
De forma geral,
todavia, o impacto econômico da mudança no clima, ou do aquecimento
global, será superior ao que causou a quebra da Bolsa de Nova York, por
exemplo. Por isso, expressivas alterações no sistema econômico precisam
ser implantadas de imediato.
A mudança na matriz energética
mundial foi identificada como prioridade zero. O mundo se movimenta no
sentido de tornar a geração de energia menos intensiva em carbono, e as
matérias-primas alternativas ao petróleo promovem o surgimento de uma
nova economia, dita de baixo carbono.
Resta aos países, tão
somente, escolher entre dois caminhos: ou preparar-se para um futuro
cada vez mais prognosticado pelos cientistas, ou continuar apostando que
as mudanças climáticas não passam de mera especulação. Mesmo para
desconfiados contumazes, como os brasileiros, o mais sensato seria
precaver-se, de alguma forma, dos impactos advindos das mudanças no
clima.
A pior atitude é permanecer na discussão infrutífera da dúvida.
*
Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal,
Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política
Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em
Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).
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