* Ecio Rodrigues
O que levou o Banco da Amazônia, ou
simplesmente Basa, como é mais conhecido, a supor que, apoiando a
expansão da atividade pecuária mediante sua mais importante carteira de
financiamentos estaria contribuindo para a sustentabilidade da região?
Considerando-se a incongruência da suposição, certamente que responder a
essa pergunta requer um estudo mais demorado sobre a questão.
O
Basa compõe, juntamente com a Suframa, o Banco do Brasil e o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, o conjunto dos
quatro mais importantes agentes financeiros para a oferta de recursos
destinados ao subsídio do desenvolvimento regional na Amazônia.
Embora
nenhum desses agentes financeiros domine – da forma como deveriam
dominar para atuar como promotores do desenvolvimento regional – o
conceito de sustentabilidade adequado à Amazônia, de longe o Basa é o
pior e o menos preparado, sob o ponto de vista técnico. Diante do
histórico do banco, trata-se de uma contradição frustrante.
Acontece
que o Basa foi criado para estear, mediante financiamento direto e
instalação de infraestrutura, a produção de borracha, o mais importante
produto florestal da Amazônia. Nem a madeira, nem nenhum dos itens da
cesta de produtos a que se denominou “drogas do sertão” (como é o caso
do cacau) se comparam à importância econômica que a borracha possui para
a história da ocupação da região.
Tanto assim, que a borracha é o
único produto que pôde dispor de um banco específico – o Banco de
Crédito da Borracha, criado na esteira do esforço brasileiro para apoiar
os aliados durante a Segunda Guerra Mundial.
A experiência
acumulada por essa instituição no suporte à atividade produtiva do
extrativismo – algo de valor inestimável, vez que o extrativismo se
configura numa das mais (senão a mais) complexas atividades do setor
primário – deveria ter sido assimilada pelo Basa, que assumiu as
atividades do Banco da Borracha em 1966, no período da ditadura militar;
mas, ao que parece, isso não aconteceu.
A atuação e,
consequentemente, a especialização no âmbito desse segmento produtivo, o
do extrativismo, teria induzido o Basa para o caminho da
sustentabilidade. Todavia, e infelizmente, o banco não só perdeu toda a
expertise do antigo Banco de Crédito da Borracha como ajudou a conceber a
equivocada ideia de que o extrativismo estaria fadado ao fracasso e que
deveria ser suprimido para dar lugar à “sustentável” atividade
pecuária.
Essa completa falta de visão estratégica – que até
poderia ser admissível durante o afã desenvolvimentista da década de
1970, quando os militares investiam na construção da rodovia
Transamazônica (até hoje não foi inaugurada) e na ocupação da região por
produtores – não se justifica na atualidade, quando o extrativismo foi
alçado à condição de opção produtiva mais adequada aos ideais de
sustentabilidade preconizados para a Amazônia.
A reiterada
insistência nessa equivocada noção de desenvolvimento regional leva o
Basa, por um lado, a continuar financiando a pecuária e, por outro, a
dificultar o apoio ao extrativismo.
Enquanto o extrativismo
tradicional evolui, em termos tecnológicos, para o manejo florestal
comunitário, o Basa continua cego e perdido no apoio à criação de gado,
ao plantio de soja e à construção de lojas nos centros urbanos.
E
o pior, apregoando que esse tipo de financiamento promove a
sustentabilidade da Amazônia – premissa que provavelmente representa a
compreensão do Basa sobre sustentabilidade. Triste, mas verdade.
A
conclusão, singela mas estratégica, é que um agente financeiro a menos
não faz diferença: se o critério é a sustentabilidade da Amazônia, podem
fechar o Basa.
* Professor da Universidade Federal do
Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e
Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade
de Brasília (UnB).
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