* Ecio Rodrigues
Em períodos
de grave crise, como o que hoje se vivencia no Brasil, os governantes costumam
tomar decisões impopulares – quer dizer, decisões que, em tempos normais, poderiam
levar à perda de votos.
Geralmente,
os primeiros setores afetados por esse tipo de medida vinculam-se a áreas que, provavelmente
por razões de cunho cultural, não são consideradas prioritárias pela sociedade.
Dessa
forma, projetos de política pública nos campos da Ciência, Tecnologia, Turismo,
Cultura e Meio Ambiente, só para ficar nas pastas sempre mais prejudicadas, são
postergados ou, simplesmente, retirados do orçamento estatal.
No
caso específico da área ambiental, que desde meados dos anos 2000 tem seu
orçamento direcionado quase que exclusivamente ao combate do desmatamento na
Amazônia (com resultados preocupantes, por sinal), um eventual contingenciamento
orçamentário levará ao adiamento ou ao cancelamento de projetos que dizem
respeito a assuntos como gerenciamento de Unidades de Conservação; reciclagem de
lixo; manejo florestal comunitário para produção de madeira na Amazônia; e
assim por diante.
Ora,
diante de tal realidade, exige pouco esforço imaginativo supor que o Fundo
Nacional de Meio Ambiente – FNMA, um dos principais (senão o principal)
mecanismos de financiamento desses projetos postergados, perderá sua serventia,
entrando para o rol dos órgãos considerados desnecessários.
Caberá
à sociedade reverter esse processo. Para tanto, faz-se imperativa a demonstração
de que existe demanda pública para manter o FNMA e garantir orçamento às
carteiras de crédito do Fundo, diante de duas razões preponderantes: relação
custo-benefício favorável e expertise acumulada.
Por
relação custo-benefício pressupõe-se a prestação de um importante serviço a um baixo
custo para os cofres da União. Contando com uma equipe reduzida de técnicos, o
Fundo consegue gerir quantidades expressivas de operações de crédito, as quais,
por sua vez, apresentam inadimplência irrisória.
Todos
haverão de concordar que se trata de algo pouco comum no contexto da esfera
pública brasileira, onde o habitual é a prestação de um serviço ineficaz sob um
alto custo para a sociedade.
Sem
embargo, a razão mais importante para a manutenção do FNMA é o investimento
público já realizado na estruturação dum sistema estatal de financiamento de
projetos que envolvem temas de interesse difuso e risco econômico, e que por
isso mesmo não podem prescindir do apoio estatal.
Significa
afirmar que, por mais que o Fundo tenha sofrido com a condição deletéria de seu
orçamento, existe capacidade institucional e experiência acumulada para fazer
chegar aos agentes que se encontram junto à realidade local – como organizações
da sociedade civil e pequenas prefeituras – recursos do orçamento federal, de
maneira ágil, segura e transparente.
Todos
haverão de concordar que se trata de algo pouco comum no contexto da gestão pública
nacional, onde são frequentes exemplos de desperdício, insegurança e
desvirtuamento na aplicação do dinheiro público.
Salvar
o FNMA é possível, mas será fundamental a atuação e a experiência das entidades
que serão escolhidas, agora em 2016, para compor o Conselho Deliberativo do
Fundo até 2018.
*Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro
florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela
Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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