sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Apresentação na Câmara de Vereadores de Sena Madureira (10/09/2013)

Nossa apresentação na Câmara Municipal de Sena Madureira foi bem recepcionada pelos vereadores e a comunidade que nos prestigiou. Essa foi nossa última atividade no município e uma das atividades finais do projeto que encerrará os trabalhos de extensão em outubro. Mas será apenas o início da prática dos conhecimentos que levamos aos municípios e seus moradores sobre conscientização e conservação das matas ciliares e cabeceiras do Rio Purus.












domingo, 15 de setembro de 2013

Mais calor e menos chuva na Amazônia. Será o caos?

* Ecio Rodrigues

No Brasil, os que gostam de desacreditar as pesquisas científicas costumam obter seus quinze minutos de fama ao contestar os resultados apresentados pelos cientistas que se dedicam ao estudo sobre o aquecimento global e as consequentes mudanças no clima.
Na verdade, o expediente de pôr em xeque as informações divulgadas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) tem sido corriqueiro nesse país que cultua a desconfiança: não à toa, a propalada existência de espiões e biopiratas impregna o imaginário popular de maneira persistente e equívoca.
O IPCC, como se sabe, é formado por mais de 3.000 cientistas, que receberam mandato da ONU para estudar as mudanças climáticas e publicar relatórios periódicos, cujo conteúdo chama a atenção dos países para a existência de um processo de aquecimento do planeta, causado pelas atividades produtivas vigentes e que sustentam os atuais níveis de consumo da humanidade.
Pois bem. A despeito das credenciais ostentadas pelo IPCC, vez ou outra alguém ganha espaço na mídia nacional rebatendo os resultados apresentados por esses cientistas e garantindo que o mundo – incluindo-se o Brasil, obviamente – estaria sujeito a um processo de resfriamento, e não de aquecimento.
Portanto, não haveria mudança no clima, nem tampouco perspectiva de catástrofes, e todas os eventos climáticos que vêm ocorrendo não passariam de uma transformação natural e previsível na história da existência do planeta.
Não raro, para esses arautos da desconfiança, as conclusões do IPCC seriam tendenciosas, uma vez que procedem de estudos levados a cabo por estrangeiros. Vale dizer, como se trata de informações suscitadas por cientistas a serviço de potências com interesses escusos em relação ao Brasil, não mereceriam crédito.
Todavia, diante da publicação, em 09 de setembro último, do relatório produzido pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas – formado, diga-se de passagem, exclusivamente por cientistas brasileiros – esse argumento já não pode ser levantado.
O Painel nacional foi instituído pelo governo brasileiro em 2009, com a missão de rever, analisar e aplicar as metodologias empregadas pelo IPPC e que resultaram no diagnóstico de um processo permanente e inexorável de aquecimento global. Depois de três anos de pesquisas, os cientistas brasileiros concluíram que sim, o aquecimento global é uma realidade científica também no Brasil.
Para a Amazônia, o cenário é, no mínimo, estarrecedor. Os cientistas brasileiros preveem, até 2040, diminuição de 10% no volume de chuvas, além de aumento na temperatura, estimado entre 1 e 1,5º C.
O quadro se agrava de 2041 a 2070, estando prevista redução de 25% a 30% nas chuvas e ampliação da temperatura entre 3 e 3,5°C. De 2071 a 2100, a situação será ainda pior: redução de 40% a 45% nas chuvas e temperatura mais alta entre 5 e 6°C.
Também foi objeto de análise pelo Painel brasileiro as implicações do aquecimento global sobre as atividades produtivas exercidas no país. E, embora os produtores envolvidos com o agronegócio não acreditem nas tais mudanças climáticas, essa atividade, seguramente, será a mais afetada.
O fato é que as principais consequências do aquecimento global são aumento da temperatura e redução da quantidade de chuvas. Ora, considerando-se
que a oferta de água e o equilíbrio na temperatura são fatores cruciais para o sucesso do agronegócio, os descrentes, em algum momento, terão que reavaliar suas posições.
Não há dúvida científica: se o país não zerar o desmatamento, a crise ecológica será inevitável. Simplesmente, já não há mais tempo para desconfianças.


* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

domingo, 1 de setembro de 2013

Palestras em Sena Madureira

Nos dias 22 e 23 de agosto, demos início às atividades em Sena Madureira. No dia 22/08, a  Escola de Ensino Fundamental Santa Juliana nos recebeu. A apresentação envolveu uma agradável discussão com alunos e professores sobre o assunto.
 

















E No dia 23/08, palestramos na Escola de Ensino Médio Dom Júlio Mattioli. Palestramos para os alunos de Ensino Médio dos períodos matutino, vespertino e noturno.












 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Características exclusivas garantem demanda para o cacau nativo

* Ecio Rodrigues 

Nem sempre a domesticação de uma espécie florestal que adquire valor comercial expressivo é a única ou a melhor saída. Domesticar significa retirar a espécie do interior do ecossistema florestal para cultivá-la em espaço aberto, sob alta produtividade e em larga escala. Significa também intensificar os estudos em melhoramento genético, a fim de clonar a espécie florestal, tornando-a mais produtiva.
A domesticação teve o grande mérito, é verdade, de praticamente suprimir a fome no mundo. O procedimento vem sendo levado a efeito, diuturnamente e com relativo sucesso, para todas as espécies que compõem a cesta de alimentação básica da humanidade.
Todavia, no caso das espécies florestais, a experiência demonstra que existe uma demanda permanente para o produto obtido mediante o manejo da espécie no interior do ecossistema florestal. Esse produto encontra público garantido, um nicho de mercado que resiste ao consumo massificado do produto derivado da domesticação.
Na falta de uma explicação melhor, tudo indica que algumas características exclusivas, presentes na espécie em ocorrência natural no ecossistema florestal, fornecem certos atributos ao produto final, que, por sua vez, fazem com que um seleto grupo de consumidores mantenha sua demanda.
É provável que o melhor exemplo seja o do cacau nativo amazônico. Com uma produção expressiva desde o período posterior ao descobrimento do país, e que perdurou por mais de 300 anos, o cacau nativo passou pelo processo de inelasticidade da oferta até que a domesticação foi viabilizada.
Assim, sob elevados investimentos estatais, o cacau amazônico foi cultivado em outras regiões do país. Esperava-se que as pragas existentes na Amazônia, como o fungo causador da doença conhecida por “vassoura-de-bruxa”, não chegassem às regiões consideradas de escape – o caso de Ilhéus, na Bahia –, em que as condições climáticas, entre outros fatores, não seriam favoráveis à proliferação do micro-organismo.
Para encurtar a história: em que pese todo o investimento feito no cultivo do cacau, e não obstante o fato de o mercado para o chocolate produzido com o cacau de cultivo ser vultoso e preponderante, o cacau nativo amazônico continua sendo demandado e permanece no mercado, contrariando todas as evidências. Essa circunstância só pode ser explicada por razões que remetem a características exclusivas presentes nas espécies nativas.
Essas características exclusivas podem proporcionar melhorias relacionadas à percepção sensitiva do chocolate oriundo do cacau nativo, que o diferenciam do chocolate proveniente do cacau domesticado.
Como os europeus afirmam, o cacau nativo amazônico possui “flavour” (misto de sabor e aroma) superior ao do cacau cultivado e que, ao longo do tempo, passou por melhoramentos para se tornar mais produtivo. Como se sabe, a produtividade é o principal atributo para o mercado massificado.
A conclusão é que o mercado massificado, que requer uma grande escala de produção, pode ser atendido pela domesticação da espécie em cultivos, e até mesmo, como no caso da borracha, pela sua substituição por sintéticos (leia-se indústria do petróleo).
Todavia, quando a demanda busca certas especificidades num determinado produto oriundo de uma espécie florestal – concernentes ao sabor, à aparência, ao aroma ou aos coeficientes técnicos desse produto –, surgem nichos de mercado que mantêm o consumo da espécie florestal manejada em seu ambiente nativo, ou melhor, do produto extraído das árvores dispersas no interior da floresta.
O cacau amazônico, extraído da floresta nativa, apresenta menor escala de produção e alcança maior preço de mercado. O que é melhor para a Amazônia?

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

domingo, 18 de agosto de 2013

A domesticação nem sempre é a melhor saída

* Ecio Rodrigues 

No âmbito da produção florestal, a opção pela domesticação de espécies de valor comercial é uma tendência de mercado. Essa tendência se concretiza quando existe uma demanda crescente pelo produto florestal, e a ocorrência da espécie em ambiente natural, dentro do ecossistema, proporciona oferta limitada, em vista da pequena quantidade de árvores dispersas por hectare.
Ante a inelasticidade da oferta, a ampliação da demanda pelo produto florestal força a inclusão de novas áreas no sistema produtivo até um determinado limite. Mantida a demanda crescente, mesmo após o novo limite de produção ter sido alcançado com a inclusão das novas áreas, o mercado começa a investir na domesticação da espécie, a fim de continuar o atendimento da demanda e ampliar os ganhos com a produção.
Trata-se de raciocínio relativamente simples e de fácil comprovação na história da ocupação produtiva da Amazônia e dos ciclos econômicos de alguns produtos florestais, como borracha, óleo de pau-rosa, pupunha, cupuaçu e, claro, cacau.
Essa relação de causa e efeito entre a inelasticidade da oferta e a domesticação decorrente do aumento da demanda, no caso das espécies florestais com importância comercial, foi muitas vezes abordada em documentos acadêmicos.
Todavia, nenhum desses estudos atentou para o fato de que a demanda pode assumir algumas especificidades, criando nichos de mercado para os produtos provenientes das árvores nativas, ou seja, das árvores que permanecem no ecossistema.
Acontece que, por razões variadas e de difícil aferição, as espécies florestais que se encontram no interior do ecossistema podem, ao longo de um permanente e ininterrupto ciclo de reprodução, manter e aprimorar características exclusivas, atraindo, para o produto florestal, um público específico, que busca justamente esse diferencial.
Ao que parece, há algum tipo de relação de interdependência com o ambiente, que faz com que essas características exclusivas sejam, como a própria expressão indica, exclusivas das árvores encontradas no ecossistema florestal.
O caso do látex usado como matéria-prima na produção de preservativos é um bom exemplo. Segundo estudos realizados pela fábrica de preservativos masculinos instalada no Município de Xapuri-AC, que produz a marca Natex, o látex oriundo do seringal nativo, isto é, o látex extraído das árvores de seringueira existentes na floresta nativa apresenta melhores coeficientes técnicos para a produção de preservativos, fornecendo maior resistência ao produto.
Como a resistência é uma característica importante para o preservativo, o produto confeccionado com o látex procedente dos seringais nativos tem sua demanda mantida pelo mercado – ou melhor, por um nicho do mercado de preservativos – pois, quando a mesma espécie é cultivada em seringais plantados essa característica exclusiva desaparece.
Significa que, embora o mercado dos preservativos oriundos das seringueiras cultivadas responda por mais de 95% do consumo desse produto, uma pequena parte dos consumidores irá permanecer no universo dos 5% que preferem os preservativos confeccionados a partir da borracha nativa.
Pode-se dizer então que, mesmo havendo uma demanda permanente pelas características exclusivas, o que impede a total e definitiva domesticação da espécie florestal, a quantidade de consumidores que valorizam essas características, a ponto de aceitar pagar a mais por elas, será sempre expressivamente inferior à quantidade de consumidores que continuam movimentando o mercado do cultivo. As características exclusivas, dessa forma, atendem não aos grandes mercados dos produtos florestais, mas a pequenos quinhões, a pequenos nichos desses mercados.
A domesticação não é a única resposta para os impasses econômicos da produção florestal. É possível gerar renda manejando a espécie no interior da floresta. Para a Amazônia, essa a melhor saída. 

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

domingo, 11 de agosto de 2013

Banco da Amazônia não entende de sustentabilidade

* Ecio Rodrigues

O que levou o Banco da Amazônia, ou simplesmente Basa, como é mais conhecido, a supor que, apoiando a expansão da atividade pecuária mediante sua mais importante carteira de financiamentos estaria contribuindo para a sustentabilidade da região? Considerando-se a incongruência da suposição, certamente que responder a essa pergunta requer um estudo mais demorado sobre a questão.
O Basa compõe, juntamente com a Suframa, o Banco do Brasil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, o conjunto dos quatro mais importantes agentes financeiros para a oferta de recursos destinados ao subsídio do desenvolvimento regional na Amazônia.
Embora nenhum desses agentes financeiros domine – da forma como deveriam dominar para atuar como promotores do desenvolvimento regional – o conceito de sustentabilidade adequado à Amazônia, de longe o Basa é o pior e o menos preparado, sob o ponto de vista técnico. Diante do histórico do banco, trata-se de uma contradição frustrante.
Acontece que o Basa foi criado para estear, mediante financiamento direto e instalação de infraestrutura, a produção de borracha, o mais importante produto florestal da Amazônia. Nem a madeira, nem nenhum dos itens da cesta de produtos a que se denominou “drogas do sertão” (como é o caso do cacau) se comparam à importância econômica que a borracha possui para a história da ocupação da região.
Tanto assim, que a borracha é o único produto que pôde dispor de um banco específico – o Banco de Crédito da Borracha, criado na esteira do esforço brasileiro para apoiar os aliados durante a Segunda Guerra Mundial.
A experiência acumulada por essa instituição no suporte à atividade produtiva do extrativismo – algo de valor inestimável, vez que o extrativismo se configura numa das mais (senão a mais) complexas atividades do setor primário – deveria ter sido assimilada pelo Basa, que assumiu as atividades do Banco da Borracha em 1966, no período da ditadura militar; mas, ao que parece, isso não aconteceu.
A atuação e, consequentemente, a especialização no âmbito desse segmento produtivo, o do extrativismo, teria induzido o Basa para o caminho da sustentabilidade. Todavia, e infelizmente, o banco não só perdeu toda a expertise do antigo Banco de Crédito da Borracha como ajudou a conceber a equivocada ideia de que o extrativismo estaria fadado ao fracasso e que deveria ser suprimido para dar lugar à “sustentável” atividade pecuária.
Essa completa falta de visão estratégica – que até poderia ser admissível durante o afã desenvolvimentista da década de 1970, quando os militares investiam na construção da rodovia Transamazônica (até hoje não foi inaugurada) e na ocupação da região por produtores – não se justifica na atualidade, quando o extrativismo foi alçado à condição de opção produtiva mais adequada aos ideais de sustentabilidade preconizados para a Amazônia.
A reiterada insistência nessa equivocada noção de desenvolvimento regional leva o Basa, por um lado, a continuar financiando a pecuária e, por outro, a dificultar o apoio ao extrativismo.
Enquanto o extrativismo tradicional evolui, em termos tecnológicos, para o manejo florestal comunitário, o Basa continua cego e perdido no apoio à criação de gado, ao plantio de soja e à construção de lojas nos centros urbanos.
E o pior, apregoando que esse tipo de financiamento promove a sustentabilidade da Amazônia – premissa que provavelmente representa a compreensão do Basa sobre sustentabilidade. Triste, mas verdade.
A conclusão, singela mas estratégica, é que um agente financeiro a menos não faz diferença: se o critério é a sustentabilidade da Amazônia, podem fechar o Basa. 

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).