* Ecio Rodrigues
Com a aproximação da Conferência
de Paris, que acontecerá em dezembro de 2015, o momento é mais que oportuno para
se instituírem, na Amazônia, mecanismos de política pública que promovam o
manejo florestal de uso múltiplo (incluindo-se a produção de madeira), de modo
que essa tecnologia se multiplique pela região.
Considerada um verdadeiro
tabu pelo movimento ambientalista, a exploração de madeira sempre encontrou
resistências de toda ordem. Claro que nos dias atuais, passados 25 anos desde a
criação da primeira reserva extrativista e da consumação das primeiras
experiências bem sucedidas de produção comunitária de madeira, essa resistência
se torna inconcebível.
Mas o problema é que o tempo
para, quando o assunto é a produção de madeira na Amazônia.
Passados tantos anos, e sem
embargo de todos os avanços que alcançaram a atividade, permanece o juízo de
que a exploração de toras na Amazônia continua a ser realizada sob uma condição
marginal e perdulária – e isso realmente assusta.
Parece ser insuportável à sociedade
a mera visão de um skidder ou de uma motosserra. Sempre exibidos em imagens de
grande impacto, esses equipamentos levam a população a vincular a derrubada e o
arraste das toras à devastação da floresta.
Associadamente ao imaginário
de destruição, a fragilidade institucional dos órgãos florestais e ambientais (Serviço
Florestal Brasileiro, Ibama, ICMBio etc.) só reforça a equivocada premissa de
que todo caminhão toreiro que circula pelas rodovias na Amazônia é ilegal e carrega
a destruição.
Ignora-se o fato de que as
árvores envelhecem e morrem numa proporção que pode ser até maior que a da
extração efetuada sob a tecnologia do manejo florestal.
Esses equívocos são perigosos,
e na medida em que não são corrigidos, jogam o manejo florestal madeireiro no
mesmo patamar da nefasta atividade da criação de boi, essa, sim, a maior
responsável pela degradação florestal na Amazônia.
Embora persistam o
preconceito e a resistência, as experiências levadas a cabo na região,
sobretudo no Acre, não deixam dúvida quanto à sustentabilidade técnica,
econômica, social, ecológica e política da produção de madeira manejada,
inclusive a efetuada por comunidades. Indo além, a história comprova o que
algumas instituições envolvidas com o tema vêm afirmando reiteradamente pelo
menos nos últimos 15 anos.
Primeiro, que, para
realidades como a do Acre, onde um contingente considerável de produtores vive
no interior da floresta, o manejo florestal comunitário, além de ser adequado
sob o ponto de vista ambiental, interage com a atividade empresarial das
indústrias de serraria, reforçando uma inexorável divisão do trabalho e
especialização produtiva.
E segundo, que, num ambiente
com valiosa diversidade biológica, seria insensato que a exploração comunitária
madeireira fosse realizada de forma isolada e que o manejo não priorizasse o
uso múltiplo da heterogênea floresta. Adaptando a antiga máxima de origem
inglesa, é racional “ver a floresta que existe além da madeira”.
A produção de fauna
silvestre, com ênfase em animais cujas técnicas de manejo já se encontram
dominadas (cateto, queixada, paca, capivara); a produção de princípios ativos
para fitoterápicos, com ênfase em espécies cuja domesticação encontra limites;
a produção de cipós e sementes, com ênfase em espécies madeireiras inseridas na
tecnologia de manejo florestal de uso múltiplo – todas essas opções produtivas
podem ser consumadas numa mesma unidade produtiva, mediante a esquematização de
cronologias de produção bem planejadas.
A pluralidade e o pragmatismo
das experiências realizadas na Amazônia não deixam brechas para incertezas:
manejar a floresta é a saída.
* Professor associado da Universidade Federal do Acre,
engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal
e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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