segunda-feira, 13 de julho de 2015

15 anos e 300 engenheiros florestais depois

* Ecio Rodrigues
De maneira indireta, todos os profissionais graduados no Acre nos últimos 20 anos possuem algum grau de responsabilidade sobre os indicadores de sustentabilidade gerados no estado e na região. De forma direta, os engenheiros florestais formados no Acre possuem grande responsabilidade frente às duas principais mazelas que afetam esses indicadores de sustentabilidade: desmatamento e queimada.
Afinal, cada floresta manejada é um empecilho para a ampliação do desmatamento e das queimadas. E cada treminhão que circula carregado com madeira pelas rodovias foi legalizado por meio da atuação de um engenheiro florestal.
Com a aproximação do 15o aniversário de criação do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Acre (a ser celebrado em setembro próximo), e a graduação de 300 profissionais até o final de 2015, o momento parece ser propício para uma breve avaliação acerca da importância desse tipo peculiar de engenheiro para a realidade estadual.
Na verdade, a concentração de esforços levada a efeito para o surgimento do curso, motivada por sua vez por uma demanda oriunda da própria sociedade, por si já demonstra a relevância e o reconhecimento da Engenharia Florestal no Estado do Acre.
Ocorre que desde a segunda metade da década de 1980 a discussão sobre preservar, desmatar ou conservar a floresta já envolvia um grupo consistente de técnicos e de organizações; essa discussão passou pela política e chegou às instituições de ensino e de pesquisa.
Enquanto, de um lado, ambientalistas ortodoxos defendiam que a floresta deveria ser mantida intocada e que o esforço estatal deveria ser direcionado para impedir o desmatamento por meio da fiscalização, de outro lado, os pecuaristas brigavam para aumentar as superfícies desmatadas para a criação de boi.
Conservar a floresta seria a saída, dita salomônica, que atenderia à ortodoxia ambientalista pela manutenção da floresta em pé (mediante, obviamente, a exploração sustentável de áreas florestais) e, ao mesmo tempo, acalentaria a reivindicação progressista por geração de riqueza e melhoria dos preocupantes índices de IDH ostentados no estado.
Para conservar a floresta e promover a consolidação dum setor florestal forte e com participação expressiva na economia local, um primeiro passo tinha que ser dado. Não havia como satisfazer a demanda técnica para manejar a floresta por intermédio, unicamente, da importação de engenheiros florestais do Sudeste do país.
Embora de inegável importância, a comitiva de cariocas, mineiros, paulistas, que chegou ao Acre nessa época não dava conta da grande empreitada a ser enfrentada. A graduação de engenheiros florestais no estado tornou-se uma exigência da sociedade, rapidamente incorporada pela política pública.
Com um legado que abrange a concepção das reservas extrativistas, além da execução das primeiras experiências de manejo florestal comunitário para a produção de madeira, e de manejo florestal de uso múltiplo para a oferta de uma cesta de produtos (incluindo resinas, sementes florestais, animais silvestres), a realidade atual no Acre não é a mesma de outrora.
A atuação dos engenheiros florestais certamente contribui para a manutenção de 85% do território estadual com cobertura florestal, sendo que 70% dessa área (aproximadamente) é protegida por lei, na forma de unidades de conservação (como as reservas extrativistas), terras indígenas, reservas legais e áreas de proteção permanente (como as matas ciliares).
Ninguém há de negar, contudo, que, como as florestas são consideradas a principal solução para a superação da atual crise ecológica, trezentos é pouco!

* Professor associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.

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