* Ecio Rodrigues
Junho foi o mês mais quente
da história moderna da humanidade. Significa dizer que desde que se iniciaram
as medições de temperatura, no final do século dezenove, nunca houve um mês de
junho tão quente quanto o de 2015.
A imprensa americana tratou
a informação com alguma relevância, sem embargo da partidarização que caracteriza
o tema das mudanças climáticas naquele país: as opiniões se dividem entre os democratas
(que acreditam) e os republicanos (que negam).
A mídia europeia, por sua
vez, mostrou-se mais preocupada, ainda que a fonte do diagnóstico tenha sido a agência
espacial americana, a poderosa Nasa.
Por aqui, enquanto isso, a
informação passou praticamente despercebida, quase que nem notícia foi.
Para os que acham que tudo
faz parte de um processo natural e que a elevação de temperatura não representa
riscos para o planeta nem tampouco para os humanos, chegando mesmo ao absurdo
de considerar que o degelo no ártico irá abrir novas e promissoras rotas para o
mercantilismo oceânico, não há motivo de preocupação.
Por outro lado, para mais de
95% dos cientistas envolvidos com os estudos sobre as implicações decorrentes
das alterações do clima em todos os 193 países associados ao sistema ONU, a
temperatura média do mês de junho passado é uma ameaça à vida no planeta.
Não à toa o Vaticano e o próprio
Papa promoveram a publicação, ainda em junho, de uma encíclica sobre as mudanças
climáticas e reuniram, já em julho, prefeitos e governadores de todos os continentes
para discutir a adoção imediata de ações de política pública, a fim de reverter
a tendência de aquecimento global.
Decisões políticas são
necessárias e urgentes. Cidades como São Paulo (Brasil), Tókio (Japão) e Xangai
(China), por exemplo, precisam levar a efeito ações que impliquem drástica
redução no consumo de combustíveis fósseis, como o petróleo, e promovam um modo
de vida menos agressivo em relação ao usufruto dos recursos naturais.
As expectativas se voltam,
evidentemente, para a COP 21, conferência da ONU sobre as mudanças climáticas
que será realizada em dezembro próximo em Paris, França.
Com o empurrão dum conjunto
de acordos bilaterais, cujo destaque fica para os dois que foram firmados pelos
Estados Unidos (com a China e com o Brasil), a COP 21 está sendo aguardada como
um momento histórico, daqueles que resultam em deliberações que alteram para
sempre o modo de vida da humanidade.
O acordo celebrado entre EUA
e China dá sinais claros da disposição das duas maiores economias do planeta para
alterar suas matrizes energéticas, fomentando a substituição do petróleo e do
carvão mineral por combustíveis de fontes renováveis.
No acordo que os Estados
Unidos pactuaram com o Brasil, de outra banda, a geração de energia oriunda de
fontes consideradas limpas e a redução do desmatamento das florestas, sobretudo
na Amazônia, ganharam status de compromisso internacional.
Conquanto não tenha sido
mantida no acordo final, a proposta de desmatamento zero esteve na pauta das
discussões. Ainda que alguns a tenham considerado mera retórica do governo
federal, o fato é que o país será, mais cedo do que se pensava, levado a
assumir esse crucial compromisso com o mundo.
Mesmo que por aqui poucos se
deem conta, na COP 21 o Brasil terá que rever seu modelo de desenvolvimento. O
mundo não deixará que o país se furte a essa responsabilidade.
* Professor Associado da Universidade Federal do Acre,
engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal
e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento
Sustentável pela Universidade de Brasília.
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