sábado, 8 de agosto de 2015

O junho mais quente de nossas vidas

* Ecio Rodrigues
Junho foi o mês mais quente da história moderna da humanidade. Significa dizer que desde que se iniciaram as medições de temperatura, no final do século dezenove, nunca houve um mês de junho tão quente quanto o de 2015.
A imprensa americana tratou a informação com alguma relevância, sem embargo da partidarização que caracteriza o tema das mudanças climáticas naquele país: as opiniões se dividem entre os democratas (que acreditam) e os republicanos (que negam).
A mídia europeia, por sua vez, mostrou-se mais preocupada, ainda que a fonte do diagnóstico tenha sido a agência espacial americana, a poderosa Nasa.
Por aqui, enquanto isso, a informação passou praticamente despercebida, quase que nem notícia foi.
Para os que acham que tudo faz parte de um processo natural e que a elevação de temperatura não representa riscos para o planeta nem tampouco para os humanos, chegando mesmo ao absurdo de considerar que o degelo no ártico irá abrir novas e promissoras rotas para o mercantilismo oceânico, não há motivo de preocupação.
Por outro lado, para mais de 95% dos cientistas envolvidos com os estudos sobre as implicações decorrentes das alterações do clima em todos os 193 países associados ao sistema ONU, a temperatura média do mês de junho passado é uma ameaça à vida no planeta.
Não à toa o Vaticano e o próprio Papa promoveram a publicação, ainda em junho, de uma encíclica sobre as mudanças climáticas e reuniram, já em julho, prefeitos e governadores de todos os continentes para discutir a adoção imediata de ações de política pública, a fim de reverter a tendência de aquecimento global.
Decisões políticas são necessárias e urgentes. Cidades como São Paulo (Brasil), Tókio (Japão) e Xangai (China), por exemplo, precisam levar a efeito ações que impliquem drástica redução no consumo de combustíveis fósseis, como o petróleo, e promovam um modo de vida menos agressivo em relação ao usufruto dos recursos naturais.
As expectativas se voltam, evidentemente, para a COP 21, conferência da ONU sobre as mudanças climáticas que será realizada em dezembro próximo em Paris, França.
Com o empurrão dum conjunto de acordos bilaterais, cujo destaque fica para os dois que foram firmados pelos Estados Unidos (com a China e com o Brasil), a COP 21 está sendo aguardada como um momento histórico, daqueles que resultam em deliberações que alteram para sempre o modo de vida da humanidade.
O acordo celebrado entre EUA e China dá sinais claros da disposição das duas maiores economias do planeta para alterar suas matrizes energéticas, fomentando a substituição do petróleo e do carvão mineral por combustíveis de fontes renováveis.
No acordo que os Estados Unidos pactuaram com o Brasil, de outra banda, a geração de energia oriunda de fontes consideradas limpas e a redução do desmatamento das florestas, sobretudo na Amazônia, ganharam status de compromisso internacional.
Conquanto não tenha sido mantida no acordo final, a proposta de desmatamento zero esteve na pauta das discussões. Ainda que alguns a tenham considerado mera retórica do governo federal, o fato é que o país será, mais cedo do que se pensava, levado a assumir esse crucial compromisso com o mundo.
Mesmo que por aqui poucos se deem conta, na COP 21 o Brasil terá que rever seu modelo de desenvolvimento. O mundo não deixará que o país se furte a essa responsabilidade. 

* Professor Associado da Universidade Federal do Acre, engenheiro florestal, especialista em Manejo Florestal e mestre em Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná, e doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília.


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