* Ecio Rodrigues
Ainda que em suas declarações institucionais a
Suframa, Superintendência da Zona Franca de Manaus, sempre se refira,
direta ou indiretamente, a uma dita sustentabilidade da Amazônia, as
ações do órgão deixam evidente o seu apoio a projetos voltados para
objetivos muito distantes da preocupação com algum futuro sustentável.
Sob
uma interpretação bem estreita (para dizer o mínimo) do conceito de
sustentabilidade, a atuação da Suframa direciona-se para abrir e
pavimentar estradas, construir pontes, levar energia elétrica e todo o
tipo de infraestrutura para a região, movimentando expressivo volume de
recursos diante da frágil realidade econômica dos estados amazônicos.
A
estreiteza na interpretação do conceito de sustentabilidade reside no
fato de que, embora o desenvolvimento sustentável demande estrutura
física de transporte, de energia elétrica e de comunicações, a conquista
da sustentabilidade requer uma análise criteriosa dos fins a que se
presta essa infraestrutura. Ou seja, há que se averiguar a quem essa
infraestrutura irá servir, que tipo de empreendimento irá beneficiar.
Mas
o problema não para por aí. Mesmo que a Suframa limitasse sua atuação
institucional à instalação de infraestrutura, ainda assim não poderia
jamais afirmar que contribui para a sustentabilidade da Amazônia;
todavia, o descaminho em relação à sustentabilidade se materializa na
carteira de projetos produtivos financiados pela instituição.
Ocorre
que a maior parte dos financiamentos efetuados pela Suframa no setor
produtivo beneficia as indústrias instaladas no parque industrial de
Manaus. Trata-se de montadoras – ou seja, de empresas que meramente
montam artigos manufaturados em outros estados e até em outros países.
Ora, o bem produzido, em quase 100% dos casos, está distante dos ideais
de sustentabilidade atualmente preconizados no mundo.
Em que
medida, por exemplo, a produção ou montagem de motocicletas de uma marca
qualquer, nacional ou multinacional, pode ter alguma vinculação com a
sustentabilidade? A resposta é simples: não há vínculo nenhum.
Certamente,
haverá quem defenda que a sustentabilidade estaria na geração de
emprego e renda, uma renda decorrente do recolhimento de impostos e do
pagamento dos salários, que traz dinamismo para a economia.
Contudo,
não se pode esquecer que se trata de um emprego com pouca estabilidade,
de valor de remuneração inferior, e que desaparecerá no médio prazo. A
existência dessas empresas montadoras depende dos benefícios fiscais
oferecidos pelo Estado brasileiro, que um dia irão acabar.
Esse
tipo de indústria não permanecerá em Manaus, ou em outra cidade da
Amazônia, sem os incentivos fiscais. As empresas partirão para outras
localidades, onde sejam oferecidos os mesmos incentivos, ou para regiões
onde o custo dos fatores de produção (terra, capital e trabalho) seja
inferior, como no Sudeste do país. A região Norte e a Amazônia nunca
serão competitivas o suficiente nesse campo.
Haverá quem defenda
também o espírito corporativo das empresas, enumerando uma série de
ações desencadeadas pelas montadoras de televisores, de aparelhos de som
e de outras centenas de produtos, no intuito de buscar e pagar pela
sustentabilidade. Essas ações, embora recebam diversas designações,
resumem-se a apenas duas: educação ambiental e papel reciclado. Pura
fantasia!
A infraestrutura só contribuirá para a sustentabilidade
se a produção de bens possuir vínculo concreto com a vocação florestal
da Amazônia. Encontra-se nos produtos da diversidade biológica do
ecossistema regional a saída para a sustentabilidade. Produtos
explorados mediante a tecnologia do manejo florestal de uso múltiplo.
Enquanto
a Suframa preferir as quinquilharias modernas à indústria da
biodiversidade, o caminho para a sustentabilidade não será trilhado na
Amazônia.
* Professor da Universidade Federal do
Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e
Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade
de Brasília (UnB).
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