* Ecio Rodrigues
Pressionados pela bancada de senadores
paulistas – aqueles eleitos pelos cidadãos de São Paulo –, os defensores
da Zona Franca de Manaus não tiveram argumentos econômicos para
contrapor a alegação de que a evasão fiscal acarretada pelos subsídios
conferidos às montadoras instaladas na região traz benefícios pífios aos
cofres do Tesouro Estadual e Federal.
Segundo os parlamentares
paulistas, a Zona Franca apresenta balança desfavorável em termos
financeiros e econômicos, tendo fracassado como modelo para
industrialização e desenvolvimento regional. Não deu certo em mais de 40
anos de instalação e favorecimento às montadoras, e não dará certo nos
próximos 40 anos. No mínimo, portanto, os subsídios oferecidos às
empresas deveriam ter um prazo de validade. Uma data para acabar.
Mas,
afinal, que razões levaram os parlamentares de São Paulo a fecharem o
cerco sobre o sistema de renúncia fiscal que favorece empresas
instaladas no Estado do Amazonas, notadamente em Manaus?
É que
esse tipo de favorecimento representa uma ameaça à competitividade da
indústria paulistana – de longe a maior do país e a mais bem estruturada
–, já que as empresas, inclusive as de São Paulo mesmo, ao invés de
melhorarem seu desempenho em termos de produtividade e inovação, se
acomodam em busca das facilidades fiscais.
Por outro lado, não
deixa de causar espanto o fato de que, em relação a esse tema, e
diversamente do que usualmente acontece, a aliança entre os
parlamentares se dá não por partido, mas por bancada. Dessa forma, é
possível observar senadores de um mesmo partido sustentando
posicionamentos completamente antagônicos.
Enquanto a bancada
paulista defende o estabelecimento de um prazo para o fim do benefício
fiscal, a bancada amazônica – não apenas os parlamentares do Amazonas,
mas também do Acre, Rondônia, Mato Grosso, Amapá, Roraima e Pará –
defende que a Zona Franca deve continuar por tempo indeterminado.
Diante
da dificuldade para contestar as evidências de falência econômica da
Zona Franca de Manaus, fartamente documentada pelos senadores paulistas,
a bancada da Amazônia recorreu aos argumentos de sempre: miséria,
pobreza...
Assim, entabulou o discurso batido de que com a Zona Franca há progresso e riqueza e sem ela, atraso e penúria.
É
o velho argumento usado para endossar velhas mazelas que assolam a
Amazônia, como os desmatamentos e as queimadas – práticas que, em tese,
deveriam beneficiar os pequenos, mas que, a bem da verdade, aumentam a
desigualdade e não tiram a região da costumeira letargia econômica.
Por
fim, como derradeira cartada, os defensores da Zona Franca apelaram
para os benefícios – pasme-se! – que esse modelo traria para a
sustentabilidade ecológica.
Alegaram – sem parar para pensar,
obviamente – que as taxas de desmatamento observadas no Estado do
Amazonas, por várias razões inferiores às registradas em outros estados
amazônicos, inclusive no Acre, teriam relação direta com a Zona Franca
de Manaus.
Certamente que não saberiam explicar a relação lógica
entre taxas de desmatamento e instalação de montadoras. Mas, afinal,
lógica não é o forte deles.
Esses parlamentares temem que o fim
da Zona Franca cause desemprego e, em última análise, a perda de votos.
Todavia, isso vale apenas para os trabalhadores que atuam na própria
Zona Franca, que, embora não constituam um número significativo e
recebam remuneração abaixo da média nacional, evidentemente valorizam
seu emprego.
Para os outros milhares de trabalhadores da Amazônia, nada disso tem significado.
* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro
Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e
Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor
em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).
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