* Ecio Rodrigues
As pesquisas de opinião realizadas em países
desenvolvidos e também nos menos abastados apontam uma crescente
preocupação da sociedade com relação ao desenvolvimento sustentável.
Objeto de manifestações que acontecem em todo o mundo, a reivindicação
por um mundo sustentável se consolida, a despeito de que poucos –
pouquíssimos mesmo – tenham ideia do que isso realmente signifique.
Acontece
que os preceitos do desenvolvimento sustentável, que começaram a ser
discutidos após a realização da primeira conferencia da ONU sobre
desenvolvimento e meio ambiente, ocorrida em 1972, na cidade de
Estocolmo, só foram consensuados 20 anos depois, no Rio de Janeiro.
Ainda
assim, a definição acordada possui elevado grau de generalização, uma
vez que se ateve à expressão “satisfação das necessidades” - das atuais e
das futuras gerações.
Diante de uma definição genérica, a
interpretação dessa definição – no cotidiano das pessoas, das famílias,
das empresas, dos governos – fica a critério de cada um. Sem entrar no
mérito das razões que ensejam essa interpretação, o fato é que se trata
de empreitada que exige o domínio de informações especializadas, que
geralmente não estão disponíveis para o grande público.
Por outro
lado, as pequenas decisões diárias de consumo, por mais singelas que
pareçam, podem aproximar ou afastar o mundo do caminho da
sustentabilidade. Como em geral não se está suficientemente preparados
para tomá-las, a equação da sustentabilidade acaba por ser decidida no
âmbito das estratégias de mercado.
Um exemplo de fácil
compreensão é a construção de casas de madeira em regiões como a
Amazônia. Deixando de lado os que entendem que a exploração de madeira
tropical causa danos ambientais irreversíveis para a floresta e, por
conta disso, são contra todo e qualquer uso da madeira – o que é um
grande equívoco, que já deveria ter sido superado –, é importante
concentrar a atenção no tipo de matéria-prima empregada na construção de
moradias.
A construção civil, sob o argumento da padronização e
da segurança, trabalha com um conjunto muito limitado de opções. Sendo
assim, negar o uso da madeira significa optar, grosso modo, por três
materiais alternativos: alumínio, argila ou cerâmica, e concreto armado.
Sob o ponto de vista da sustentabilidade, essas opções são as piores
possíveis.
Em primeiro lugar, são materiais oriundos de jazidas.
Significa dizer que não são repostos no ambiente, o que fere um
princípio elementar da sustentabilidade – qual seja, o da restauração
dos ecossistemas. Além disso, tanto o alumínio como a cerâmica e o
concreto exigem um dispêndio absurdo de energia na sua manufatura. Sem
embargo, a minimização do uso de energia na fabricação de produtos é
outro princípio elementar para a sustentabilidade.
A madeira, de
outra banda, pode ser produzida de modo constante e permanente, sem
causar impactos significativos no ecossistema florestal – desde que seja
explorada segundo as técnicas do manejo florestal, uma tecnologia de
fácil aplicação e totalmente dominada pela engenharia florestal
amazônida.
Mas usar ou não madeira na construção de casas, embora
seja uma decisão do consumidor, envolve um leque de avaliações que
costumam deixar o comprador num beco sem saída, empurrando-o para o não
uso.
A procura por madeira padronizada, seca, com boa
trabalhabilidade e na espécie adequada importa em considerável dispêndio
de tempo e de recursos financeiros.
No final das contas,
enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, a madeira é amplamente usada
na construção civil, na Amazônia, apenas os barracos de beira de rio são
de madeira.
* Professor da Universidade Federal do
Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e
Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade
de Brasília (UnB).
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