domingo, 3 de março de 2013

Sustentabilidade do dia a dia: casa de madeira

* Ecio Rodrigues 

As pesquisas de opinião realizadas em países desenvolvidos e também nos menos abastados apontam uma crescente preocupação da sociedade com relação ao desenvolvimento sustentável. Objeto de manifestações que acontecem em todo o mundo, a reivindicação por um mundo sustentável se consolida, a despeito de que poucos – pouquíssimos mesmo – tenham ideia do que isso realmente signifique.
Acontece que os preceitos do desenvolvimento sustentável, que começaram a ser discutidos após a realização da primeira conferencia da ONU sobre desenvolvimento e meio ambiente, ocorrida em 1972, na cidade de Estocolmo, só foram consensuados 20 anos depois, no Rio de Janeiro.
Ainda assim, a definição acordada possui elevado grau de generalização, uma vez que se ateve à expressão “satisfação das necessidades” - das atuais e das futuras gerações.
Diante de uma definição genérica, a interpretação dessa definição – no cotidiano das pessoas, das famílias, das empresas, dos governos – fica a critério de cada um. Sem entrar no mérito das razões que ensejam essa interpretação, o fato é que se trata de empreitada que exige o domínio de informações especializadas, que geralmente não estão disponíveis para o grande público.
Por outro lado, as pequenas decisões diárias de consumo, por mais singelas que pareçam, podem aproximar ou afastar o mundo do caminho da sustentabilidade. Como em geral não se está suficientemente preparados para tomá-las, a equação da sustentabilidade acaba por ser decidida no âmbito das estratégias de mercado.
Um exemplo de fácil compreensão é a construção de casas de madeira em regiões como a Amazônia. Deixando de lado os que entendem que a exploração de madeira tropical causa danos ambientais irreversíveis para a floresta e, por conta disso, são contra todo e qualquer uso da madeira – o que é um grande equívoco, que já deveria ter sido superado –, é importante concentrar a atenção no tipo de matéria-prima empregada na construção de moradias.
A construção civil, sob o argumento da padronização e da segurança, trabalha com um conjunto muito limitado de opções. Sendo assim, negar o uso da madeira significa optar, grosso modo, por três materiais alternativos: alumínio, argila ou cerâmica, e concreto armado. Sob o ponto de vista da sustentabilidade, essas opções são as piores possíveis.
Em primeiro lugar, são materiais oriundos de jazidas. Significa dizer que não são repostos no ambiente, o que fere um princípio elementar da sustentabilidade – qual seja, o da restauração dos ecossistemas. Além disso, tanto o alumínio como a cerâmica e o concreto exigem um dispêndio absurdo de energia na sua manufatura. Sem embargo, a minimização do uso de energia na fabricação de produtos é outro princípio elementar para a sustentabilidade.
A madeira, de outra banda, pode ser produzida de modo constante e permanente, sem causar impactos significativos no ecossistema florestal – desde que seja explorada segundo as técnicas do manejo florestal, uma tecnologia de fácil aplicação e totalmente dominada pela engenharia florestal amazônida.
Mas usar ou não madeira na construção de casas, embora seja uma decisão do consumidor, envolve um leque de avaliações que costumam deixar o comprador num beco sem saída, empurrando-o para o não uso.
A procura por madeira padronizada, seca, com boa trabalhabilidade e na espécie adequada importa em considerável dispêndio de tempo e de recursos financeiros.
No final das contas, enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, a madeira é amplamente usada na construção civil, na Amazônia, apenas os barracos de beira de rio são de madeira. 

* Professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Engenheiro Florestal, Especialista em Manejo Florestal e Mestre em Economia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Doutor em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB).

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